quarta-feira, 21 de abril de 2010

É pra rir sim, não pra chorar

De assunto sério, vou pra um assunto engraçado.

Tendo a não gostar do Pânico na TV, mas como gosto bastante da Maria Bethânia, não tenho como não gostar dessa "apropriação" que os caras fizeram do estilo dela.

"Maria Bethânia" cantando o Rap das Armas:

"Alagados"

Estou neste exato momento organizando entrevistas para iniciar a redação de uma reportagem sobre música e periferia. Agora vem aquela hora em que inspiração é necessária, muito necessária.

Eis minha fonte:



[Se não funcionar a visualização direta aqui no blog, clique em cima para abrir no youtube.]

Eu já havia ficado fissurado neste clipe dos Paralamas do Sucesso quando da minha primeira ida ao Complexo de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro, em 2007, tendo em vista tudo o que esse contato com uma realidade tão diferente da minha me transformou.

Há algumas semanas voltei lá, para fazer entrevistas para esta matéria. O clipe ainda me parece atualíssimo, belo em sua crueza!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A casa-obra do Gustavo

Outro dia, recebi o seguinte email, comentando a reportagem sobre artistas que trasformaram a própria casa em obra de arte:

"Meu nome é Gustavo Ferro, tenho 21 anos, estudo artes visuais no Centro Universitário Belas Artes em São Paulo. Antes, morava em Santos e mudar-me para cá, por conta dos estudos, me abriu diversas possibilidades do olhar. Os lugares mudam os pensamentos e vice versa. De alguma forma é o que sinto que acontece na relação entre minha casa e eu. Me abriga, mais que meu corpo... é corpo de minhas ideias. Existe embate aqui dentro. E são grandes, intensos - internos e se exteriorizam, de alguma forma que ganha corpo que me envolve - casa.

Achei incrível a ultima parte do texto, principalmente depois de ler o depoimento de como surgiu a matéria. Vem das relações e incertezas (de certa forma), aquilo que muda. Me senti tremendamente insatisfeito por não ter ido a Bienal do Mercosul depois de tua descrição do trabalho do Henrique de Oliveira. Te digo que não me cansaria de ler uma matéria mais longa e aprofundada sobre o tema. Imaginei agora uma proposição de colocar artistas que pensam a moradia como lugar da obra em diálogo. Agora, algo que penso ser essencial é o contato com este espaço proposto. Não somente a descrição.

Faço parte de um coletivo, chame-se Beco da Arte. Começou na minha casa, com uma proposta de espaço expositivo, onde convidei alguns conhecidos para expor. Depois disso a rotina de fazer exposições em casa se fez semestralmente. Após um ano, um vizinho (hoje amigo) que se interessou pela proposta, ofereceu o espaço do porão da casa dele para nos apropriarmos. Houve uma exposição do dito porão todo detonado e marcado, por histórias, tempo, mofo, traças. Bolamos um edital e divulgamos principalmente na internet. Recebemos 40 inscrições (! foi uma surpresa) e nós mesmos selecionamos e produzimos a exposição (na época eram 4 integrantes). Depois desta exposição reformamos o porão, ficou tipo: branco. Houveram outras exposições no espaço e continua acontecendo até hoje. O próximo movimento que vai rolar no porão será dia 30 de abril, lançamento da revista Tatui número 8. Que vem com um texto do Beco dentro (impresso) como uma proposição 'artística'. Você pode ver o texto aqui.

Aqui você pode ver um video feito por um integrante do coletivo que documenta falas do proprietário do espaço cedido.

Me passa em propor a casa como obra. Mas é algo que por enquanto não assumi explicitamente (digo que por exemplo não inscreveria esta proposição em um salão de arte ou coisa assim), mas lincando com Hélio... é um dos aspectos onde enxergo a curta distância entre arte e vida, quotidiana (vida) e banal (arte)."

O email do Gustavo me deixou muito contente. É isso que eu procuro com cada reportagem, que elas continuem sendo escritas mesmo depois de prontas. Que reverberem, promovam discussão e reflexão.

Aqui vão os blogs do Gustavo, para quem quiser entrar em contato com ele: Projeto Beco da Arte e Ocupação.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Muppet Babies

O cara percebe que está se tornando uma pessoa antiga no mundo quando assiste esse vídeo abaixo, e então acende uma luzinha lá no fundo da lembrança, velha o bastante para ter quase sido apagada, mas forte o suficiente para, apesar disso, ser lembrada com toda sua intensidade:

Casa dos artistas

Acaba de ser publicada no site da revista Continuum minha mais recente reportagem, "Casa em obras". Veja um pedaço:

"Ao transformar suas residências em espaços de produção e exposição, artistas dão exemplo de como diminuir a distância entre vida e arte.

Na última edição da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2009, uma obra se destacava no número 400 da Rua da Praia. Localizada fora dos pavilhões onde ocorre a maior parte do evento, a intervenção do artista plástico paulista Henrique Oliveira transformou um prédio público abandonado numa 'casa-monstro': uma massa disforme, saindo por portas e janelas, impedia a entrada de qualquer pessoa, e dava ainda a sensação de que a construção explodiria a qualquer momento."

Para ler o resto, clique aqui.

Se você já leu e quiser saber mais sobre os bastidores da produção desta reportagem, siga lendo este post.

Essa pauta viveu um processo muito interessante desde o seu início. A revista Continuum, você sabe, é a revista do Itaú Cultural. Trata-se de uma edição bimestral, com temas variando a cada novo número. A revista de abril/maio é em homenagem ao artista plástico Hélio Oiticica. Inicialmente, eu propus uma reportagem falando sobre como trazer a arte para dentro de casa, mais especificando trazendo exemplos que poderiam ser feitos por qualquer pessoa (organizar cineclubes em casa, por exemplo, dentre inúmeras outras opções). Esse tema da arte no cotidiano é uma leitura da obra do Oiticica. A pauta foi aprovada.

Tudo indicava, porém, que se tratava de uma reportagem a ser composta muito mais por ideias criativas do que apuração. Isso me deixou um pouco desconfortável. Por isso me preocupei também em descobrir artistas que tivessem experiências bacanas produzindo obras dentro de casa. Nessa linha de investigação, descobri excelentes histórias: uma artista paulista recortou pedaços da parede de sua própria casa, usando seu corpo de molde; um artista alemão fez intervenções durante anos em sua própria casa, sem parar; uma artista gaúcha construiu uma casa-ateliê-pousada cheia de mosaicos no pequeno município de Morro Reuter; e por aí vai. Durante as entrevistas ainda surgiram dois entrevistados que questionaram a ideia original da pauta, ou seja, a ideia de que qualquer pessoa - artista ou não - poderia transformar a sua casa num espaço artístico. Como eu adoro opiniões divergentes, achei que o texto final da matéria deveria incluir isso.

A primeira versão que escrevi falava sobre essas dicas para qualquer pessoa "culturalizar" sua casa, além de trazer exemplos de artistas que levaram isso ao extremo e também mostrar a opinião de artistas com uma visão crítica sobre o tema. Foi difícil montar tudo isso, mas me ajudou o fato de, no fim, uma das entrevistadas com espírito crítico ter me mandado um email sincero revendo sua opinião sobre o assunto, num ato expontâneo e imprevisto. Esse email ficou excelente para encerrar a reportagem.

Na edição da matéria, porém, ficou claro que a parte que falava das dicas para o "cidadão comum" destoava do resto, e que o que interessava mais era mesmo o exemplo dos artistas. A primeira parte foi, em consequência disso, cortada, e a reportagem praticamente mudou de pauta: virou uma reportagem sobre artistas que tem a casa como objeto e tema artístico. Nada de dicas para o cidadão comum, portanto.

Resumindo: essa pauta foi exemplar para mim, no sentido de ter começado com um tema difícil de desenvolver, mas cuja apuração secundária acabou crescendo tanto que se sobressaiu e eliminou o resto. Além disso, ainda houve a visão crítica dos entrevistados sobre o tema da pauta, e uma brusca mudança de opinião de uma entrevistada.

Já pensou juntar tudo isso numa única reportagem? Espero que o resultado tenha sido um texto gostoso de ler. E, principalmente, inspirador!