segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Novas narrativas_upgrade 2

Um dos melhores retornos que se pode ter com uma reportagem (cujo trabalho é sempre um processo solitário) é receber depoimentos de leitores que acrescentam informações, enriquecendo o saber sobre o tema. Minha última reportagem teve essa honra. Destaco aqui dois comentários que são uma espécie de upgrade ao tema da pauta.

Ludmila:


"Olá, tudo bem?

Li essa matéria sobre o Hipertexto hoje, confesso que tal assunto me fascina muito. Gostei de saber que no Brasil também tem dado seus passos nesse tipo de literatura.

Senti falta, no entanto, de nomes pioneiros nessa área, como Raymond Queneau, criador do OuLiPo e autor de Cent Mille Milliards de Poèmes [o livro não foi esquecido, apenas foi citado em outro post no Cultura News, mais exatamente neste aqui], ou de Georges Perec, também membro desse grupo, e autor de A vida modo de usar, publicado em 1978, que assim como Afternoon traz histórias que se entrecruzam e se remetem. Esses são só alguns exemplos de uma literatura hipertextual que já existia antes de 1987. Inclusive, os livros de Calvino que você menciona fazem parte da fase oulipien do escritor, juntamente com As Cidades invisíveis.

Extremely lound and Incredubly close
do Foer, já foi traduzida, sim, para o português, o que ainda não foi e acredito que nem será é seu novo livro, o delírio de qualquer apaixonado por essa literatura, Tree of Codes que é inspirado em Rua dos Crocodilos de Bruno Schulz e tem um formato ousado mas ainda similiar ao livreto de poemas do Queneau.

Acho esse assunto extremamente apaixonante, curioso e é muito bacana poder dialogar com alguém que também nutra esse tipo de interesse.

Abraços e parabéns pela matéria."

Paula Mastroberti
:

"Olá, Paim. Li sua matéria na Revista. É um assunto que não só me fascina, como faz parte de minha pesquisa de doutorado. Além disso, também sou uma escritora que trabalha narrativas híbridas há algum tempo. Apenas trabalho para uma área na qual esse jogo é considerado natural: a literatura juvenil. Sobre isso, eu gostaria de acrescentar às suas suposições que, além da influência recente dos suportes plurimidiáticos na literatura contemporânea, é preciso ressaltar a influencia do livro infantil e juvenil na formação de gerações de escritores (eu inclusive) desde a invenção do livro-brinquedo e dos chapbooks na Inglaterra vitoriana. Não tenho dúvida de que o germe de uma literatura que integra design, efeitos gráficos e imagens, mesmo antes dos quadrinhos está no histórico da produção editorial dirigida à infância (estágio pelo qual todos passamos). Comprovadamente, o livro infantil não só soube explorar, muito antes do adulto, os recursos tecnológicos de impressão desde o século XIX, mas foi também o catalisador principal do desenvolvimento do design de livros e sua exploração estética. Abraço."

Música paraguaia

No dia 22 de fevereiro, terça-feira, estive no Teatro Municipal de Assunção. No palco, cinco artistas paraguaios cantaram músicas autorais que têm tudo a ver com a cultura do país. Não fiz gravações dessa apresentação, mas no youtube pode se encontrar amostras dos trabalhos desses músicos.

No vídeo abaixo, Hugo Ferreira canta canções de protesto.



Abaixo, Victor Riveros demonstra muita técnica para cantar músicas em guarani. Dificílimo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Novas narrativas_upgrade

O texto abaixo, escrito por mim, foi postado no portal CulturaNews como um complemento à reportagem sobre novas narrativas.

***

Na reportagem de capa da edição de fevereiro, você viu que as inovações propostas pelas novas tecnologias ou mesmo pela literatura eletrônica têm seus precursores no papel. Um bom exemplo disso é a obra "Cent Mille Milliards de Poèmes", do francês Raymond Queneau. Trata-se de um livro com dez sonetos, todos eles com o mesma métrica e o mesmo sistema de rimas. Até aí, nada demais. A diferença é que Queneau construiu cada verso de tal forma que todos eles podem ser trocados de lugares. Ou seja, cada leitor monta seu próprio poema em cada ato de leitura.

O funcionamento da obra pode ser visto na prática nesta versão interativa, publicada no site da Universidade Mannheim. Para cada verso, há dez opções, que você mesmo pode escolher. Caso você queira que o poema seja obra do acaso, vale consultar esta outra versão. Você passa o mouse por cima dos versos, e eles começam a se alternar como se fossem uma roleta. Tirando o mouse, a roleta cessa de girar. Nasce um novo poema.

Todos esses exemplos, no entanto, são apenas versões para internet de uma obra que já atravessou quase cinco décadas. Publicado em 1961, o livro de Queneau tem, originalmente, esta aparência.


Suerte!


Com minha mais nova e lindíssima cuia, comprada em Assunção, Paraguai, minhas reportagens passarão a ser muito mais saborosas. A estreia será na semana que vem, quando eu tentarei dar forma no papel a uma semana inteira de apuração sobre a cultura e a arte paraguaias.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Danza de las 6 botellas

A dança da garrafa paraguaia é bem mais original que a nossa. Bem mais cultural também.



A coreógrafa Jessica Fernandes, do Ballet del Bicentenario, conta que essa é uma dança típica do Paraguai. Normalmente usa-se uma única garrafa, com a intenção de mostrar destreza e equilíbrio. Para essa apresentação no Teatro Municipal de Asunción, foram usadas mais garrafas por ser um momento de gala.

Isso foi ontem. Hoje retorno ao Brasil.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Recuerdos de Asunción

Jornalismo é a arte de ser curioso. Às vezes, quando estou apurando, sinto como se estivesse no programa do Sérgio Malandro, tentando adivinhar o que há atrás de cada porta. Hoje, no Centro Cultural de La Republica, em Assunção, Paraguai, tentei minha sorte com uma porta escondida, de onde saía o barulho de crianças cantando. Em vez de um monstro, tive esta agradável surpresa.



O coro de crianças estava ensaiando Recuerdos de Ypacarai, uma guarânia muito popular no Paraguai. A apresentação será em maio, durante as festividades em comemoração ao bicentenário da independência paraguaia.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Uma singela surpresa em meio às coisas velhas

É incrível como um bilhete que você está escrevendo agora, neste exato instante, pode vir a proporcionar um momento comovente daqui a 25 anos, quando você tornar a encontrá-lo em meio às caixas da mais recente mudança.

Faz duas semanas que mudei de apartamento. No último sábado, ainda aportavam aqui no novo lar alguns móveis para o meu escritório. Vieram de Santa Maria, a 300 km de Porto Alegre, junto com caixas onde estavam guardadas o que até agora eu chamava de "tralhas": coisas ainda inclassifcadas do tempo da faculdade, do colégio, da infância.

Ontem, fazendo uma triagem nesse material, encontrei um álbum com fotos da minha adolescência. Quando eu passava os olhos e o sorriso por ele, caiu no chão um papel dobrado. Papel novo, diga-se de passagem, nem um pouco amarelo. Abri-o pensando em fazer uma breve checagem antes de arremessá-lo na pilha do lixo seco, mas mudei de ideia quando me deparei com isto aqui.


Se ficar ruim de visualizar, você pode clicar com o mouse em cima, que abrirá maior na mesma janela.

Acredito que o bilhetinho fala por si, mas aí vão informações complementares para entender o contexto. Meu pai, Claudio, trabalhava na Rede Ferroviária, em 1985, na capital gaúcha. Era operador de Telex, o messenger da época. Ornato Sales Mazuin, amigo dele, morava em Cachoeira do Sul, RS, onde trabalhava como maquinista.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Novas narrativas


Este post me enche de orgulho. Com ele quero divulgar meu mais recente trabalho, a reportagem de capa da edição de fevereiro da Revista da Cultura. O texto começa assim:

"Inovações no velho suporte

Uma nova geração de autores explora os limites narrativas no livro impresso, com uso de técnicas que remetem às da era digital, por sua vez já antecipadas na própria literatura.


Você já está cansado de ouvir falar na revolução que o
eBook (ou livro digital) está causando no mercado livreiro, ao modificar processos como edição, distribuição e comercialização, além de mexer com hábitos de leitura. Talvez você também já tenha ouvido falar que ele – o eBook – promete o surgimento de uma nova forma literária, ainda pouco divulgada: é a literatura eletrônica, também conhecida como “literatura hipertextual” (veja boxe). No mundo inteiro, um sem-número de autores tem explorado novas possibilidades literárias usando ferramentas da internet, como o hipertexto.

Mas deixemos o livro digital de lado! Afinal, há outra mudança de que pouco se fala. Trata-se da reinvenção das narrativas no livro impresso, talvez provocada justamente pelo advento dessas novas tecnologias. Será que o eBook e a internet estão afetando o livro impresso como o conhecemos? Essa é apenas uma hipótese, que você vai comprovar (ou não) ao longo desta reportagem.

Conheça agora alguns nomes da nova geração de autores brasileiros que fizeram algo novo onde menos se espera: o nosso velho amigo, o livro tradicional."

[...]

Para continuar lendo, cutuque aqui.

Até hoje, a maior reportagem que eu havia feito era de 11 mil caracteres (com espaços). Essa aí é de 21 mil. Dá para imaginar a quantidade de trabalho... Tudo isso, claro, foi recompensado pela satisfação de ver a revista publicada. Afinal, o que era para ser "apenas" minha reportagem de estreia na revista, acabou virando a matéria de capa.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Como prender a atenção do seu passageiro

Tem ações rotineiras e necessárias que já não surtem mais efeito porque são repetitivas e previsíveis. Um bom exemplo são as demonstrações de procedimentos de segurança que os passageiros precisam observar antes de alçar vôo. Pois uma companhia aérea (ou a agência publicitária dela) conseguiu fugir do óbvio de um jeito bastante singelo.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Minha mais velha aquisição

Na verdade, essa é a minha mais nova aquisição. Acontece que, cronologicamente, não dá pra chamar de nova, porque está na família há pelo menos três gerações.

E ainda funciona!


Funciona também a pilha. Dá pra pôr no ombro e sair andando na rua, bem contente, escutando música. Música chinesa e russa, inclusive. Porque esse rádio capta todas as frequências. Até mensagem alien deve chegar.