"Hello, I'm Reinhard Kleist!
Quadrinista alemão, autor da biografia de Johnny Cash, participou de evento sobre quadrinhos de não-ficção no Instituto Goethe e lançou o livro em português.
Visando incentivar a produção na área de quadrinhos adultos e também apresentar essas obras a novos leitores, o Instituto Goethe criou o evento "Quadrinhos de não-ficção". O primeiro convidado foi o quadrinista alemão Reinhard Kleist (www.reinhard-kleist.de), autor de "Johnny Cash - uma biografia" (8Inverso, 2009). Kleist veio ao Brasil em outubro participar do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte a convite do Instituto Goethe do Rio de Janeiro. Após, veio a Porto Alegre falar sobre quadrinhos de não-ficção como uma maneira de transmitir um conteúdo ao leitor. Também ministrou uma oficina especializada para quadrinistas sobre seu processo desenvolvendo biografias em quadrinhos. Participaram importantes nomes do quadrinho gaúcho, como Rafael Sica, Carlos Ferreira, Rodrigo Rosa e Ana Luiza Goulart Koehler, entre outros.
"Johnny Cash - uma biografia" venceu em 2008 o prêmio Max und Moritz, a maior premiação de quadrinhos da Alemanha. O livro já foi traduzido para mais de cinco idiomas e foi lançado no Brasil pela editora gaúcha 8Inverso no mesmo mês em que foi lançada a edição americana.
Mesmo tendo chegado às livrarias depois do filme "Johnny & June", a biografia em quadrinhos foi feita antes. Diferentemente da versão hollywoodiana, o quadrinho não é focado no romance de Johnny Cash e June Carter. O livro conta a difícil infância de Johnny em Arkansas, trabalhando com a família em campos de algodão. Retrata a morte trágica do irmão Jack, o tempo que passou na Alemanha pela força aérea e o início na Sun Records, ao lado de Elvis Presley, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis. A versão de Kleist retrata sem maquiagens a fase dependente de drogas de Johnny Cash, mostrando como essa também foi uma época muito criativa na carreira do cantor. No ponto alto do livro, o famoso show em Folsom Prison e uma longa cena retratando o encontro de Johnny Cash com o produtor de hip-hop Rick Rubin, responsável por dar uma guinada na carreira do então idoso Johnny Cash.
"Eu penso nas cenas em quadrinhos como se fossem as cenas de um filme", contou Kleist durante a oficina no Instituto Goethe. Por isso as páginas tem uma dinâmica especial, que muitos críticos comentam comparando mesmo com o cinema. Antes do desenho, porém, vem uma longa pesquisa e o esboço da história em um roteiro sem imagens. No caso de "Johnny Cash - uma biografia", o narrador é Glen Sherley, presidiário que, após o show em Folsom, recebe ajuda de Cash para sair da prisão e seguir na carreira musical. Só quando todo o livro está "pronto" no roteiro, Kleist passa a pensar no estilo do desenho e na composição de cada página. "Cash" é em preto e branco, algo que destoa das demais obras de Kleist. "Optei por preto e branco porque se mostrou o mais adequado para contar a vida do 'Man in Black', como Cash ficou conhecido", relata o autor.
Quadrinhos são estritamente uma arte visual. Balões e onomatopéias estão ali para suprir uma carência da linguagem: a representação do som. A tarefa de realizar a biografia em quadrinhos de um músico, portanto, tem o grau de dificuldade ampliado. Kleist usou o recurso de "desenhar músicas", ou seja, transformar canções numa história em quadrinhos. O quadrinista norte-americano Robert Crumb também faz "músicas ilustradas" assim, no estilo blues. Mas Kleist vai além, usando o recurso para fazer transições entre as cenas, escolhendo músicas que tem a ver com a história real da vida de Johnny Cash. E, para cada música, um estilo de desenho diferente. Como em "The Ballad of Ira Hayes" (música composta por Peter LaFarge), na qual Kleist buscou imitar as características de desenhos indígenas. Outras canções tem o texto disposto em balões, integrados à narrativa principal do livro. A edição brasileira optou por deixar as letras em inglês, colocando a tradução em notas de rodapé.
"Johnny Cash - uma biografia", assim como as outras obras de Kleist, é um livro que pode ser lido por leitores com diferentes graus de familiaridade com o astro country. É possível ler a obra linearmente, como forma de entrar em contato pela primeira vez com a a história de sua vida e sua obra. Para os fãs, porém, já acostumados com a voz grave que sempre dizia ao subir no palco "Hello, I'm Johnny Cash", os detalhes, citações e referências são abundantes. Vale prestar atenção em cada um dos quadros pendurados na parede da casa de Johnny Cash, na sequência final do livro.
"Cash" vem alcançando um sucesso enorme nos países em que foi publicado, gerando expectativa em relação aos próximos livros de Reinhard Kleist. Na sequência, vieram duas obras. "Elvis - die illustrierte Biografie" ("Elvis, a biografia ilustrada", ainda sem previsão de lançamento no Brasil) é uma coletânea de diversos quadrinistas sobre a vida de Elvis Presley. O roteiro, a organização e os textos das histórias são de Reinhard Kleist e Titus Ackermann. Em 2008, Kleist morou um mês em Havana. O resultado foi um diário de viagem ilustrado, "Havanna - Eine kubanische Reise" ("Havana, uma viagem cubana", também ainda sem previsão de ser lançado no Brasil). O livro foi indicado como uma das três melhores obras de quadrinhos alemão, no prêmio Sondermann, da Feira do Livro de Frankfurt deste ano.
Porém, a obra que talvez ainda venha a ser a mais importante da carreira de Reinhard Kleist ficará pronta apenas em maio de 2010. "Castro" é a biografia do líder cubano Fidel Castro. Pouco antes de vir para o Brasil, Kleist havia terminado a primeira versão dos esboços. Há grandes chances de que o autor volte a Porto Alegre para o lançamento do livro no Instituto Goethe.
A seguir, uma breve entrevista com o autor sobre sua passagem pelo Brasil.
BOX - minientrevista
É a sua primeira vez no Brasil?
Sim.
Em que lugares esteve?
Belo Horizonte, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Tiradentes e Porto Alegre.
Já conhecia os quadrinhos brasileiros?
Eu conhecia um pouco do trabalho de Samuel Casal e do Guazelli. E meu colega de ateliê, o Mawil (www.mawil.net), que faz quadrinhos autobiográficos e é bastante conhecido na Alemanha, gosta da obra do Rafael Sica.
O que você leva de volta para a Alemanha?
Eu aprendi muito sobre a cultura brasileira, revi muito do que eu pensava antes de vir. Eu não sabia, por exemplo, que o grupo Sepultura é brasileiro. E eu comprei um cd do Alceu Valença.
Pretende voltar a Porto Alegre?
Espero que sim. Talvez na Feira do Livro de 2010, para lançar "Castro". E Mawil talvez seja o próximo convidado do Instituto Goethe no evento "Quadrinhos de não-ficção".
Legenda do desenho:
em sua passagem pelo Brasil, Reinhard Kleist esteve três dias em Porto Alegre. Além de conhecer ícones do quadrinho do Rio Grande do Sul, como Santiago e Fábio Zimbres, Kleist também visitou pontos turísticos da capital. Ele esteve no brique da Redenção, no centro histórico e viu o pôr do sol no Guaíba. Como registro dessa visita á cidade, Reinhard Kleist fez um desenho exclusivo para a revista APLAUSO, retratando o encontro real de Bob Dylan (que aparece em uma cena de "Johnny Cash - uma biografia") com o jornalista gaúcho Eduardo Bueno, o "Peninha", no Mercado Público de Porto Alegre, em 1991."
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