sábado, 28 de fevereiro de 2009

Mario sai do armário

O Mario é vidrado em cultura clássica e obcecado por sistemas educacionais antigos, pensados por pensadores que já pararam de pensar há muito tempo. Eu gosto de tudo isso mas também gosto de SuperNanny. Estou fazendo o Mario gostar também. Como estou responsável por ajudar a educar os meninos dele quando estou sozinho, já usei o método da cadeira do castigo. O Mario, ao ouvir meu relato e saber que teve resultado, me deu tapas nas costas de felicidade.

Mario é filósofo, médico, artista. Já esteve no Afeganistão como médico-soldado. Eu trabalhei 8 meses no Hospital Universitário da UFSM. Não fiz nenhuma operação, era assessor de imprensa. Me considero filósofo (de boteco) e artista (de rua). Estou ensinando Mario a gostar de Elvis e Star Wars.

Estou pervertendo o pensamento intelectualmente correto de Mario com o tanto que tenho de cultura popular e pop art. Mas meu lado intelectual segue muito próximo do lado intelectual do Mario. Apenas estou fazendo ele sair um pouco do armário.

Um passo enorme nesse sentido foi dado hoje.



O Mario nunca aprenderia sobre chimarrão lendo Rousseau.

(Só se fosse lendo o catálogo do Russô, dono de quitanda no interior gaúcho...)

Enfim, aqui em Trebbin, há meia hora de Berlin, estou me tornando um cara mais sapiente convivendo com o Mario, que, por seu lado, está se tornando um cara mais pop convivendo comigo. Isso é que realmente se chama "inter"câmbio. Os dois lados lucram.

***

Me dei conta que não expliquei quem é o Mario. Talvez você não tenha lido os posts anteriores e não saiba portanto.

Enfim, Mário é aquele que te comeu atrás do armário.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Madredeus!

Há momentos que carecem de tradução. Só sei que sempre que escutar o grupo português Madredeus vou lembrar da janta de hoje à noite...

Não explico mais não para criar suspense, mas sim porque qualquer tentativa de explicar não explicaria.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Indo dessa pruma melhor...

Depois de cinco horas de viagem, duas trocas de trem carregando um malão, somado a um tiro de 200 metros rasos na estação central de Berlin para pegar o trem para Trebbin já partindo, tudo isso em meio a um resfriado que me deixou com a sensação de ter uma bola de ar trancada na garganta, cheguei aonde queria chegar. Isso é, ao lar da Família Weitz, com quem vou morar (e trabalhar como Aupair) pelos próximos cinco meses.

Se eu achava que estava bom em Haselünne e poderia estar jogando tudo pro alto, aqui é ainda melhor. Veja, por exemplo, como é a "minha casa".




Digo "minha casa" porque essa cozinha, sala (duas fotos), banheiro e quarto que mostrei são realmente só para mim. Ficam no porão da casa, com entrada privativa.

Eu mereço tudo isso, não? Mesmo se você disser que nem tanto, eu sei que mereço. Eheheheheh.

Ontem à noite, quando cheguei, fui recepcionado pelos menininhos dizendo meu nome (os pais ensinaram). Depois jantamos e ficamos horas conversando sobre coisas realmente fundamentais. Dei sorte de achar uma família com valores muito semelhantes aos meus. Não tive vergonha de expor meus pensamentos mais viscerais.

Hoje acordei cedíssimo, tomei café com a família e juntos fizemos um passeio a pé. Olha quanta neve:



Agora, com vocês, a família Weitz (sei que vocês estão ansiosos para conhecê-los também):


Mario, o pai. Laura, a mãe. Leo, o pequeno. Karl, o "mais pequeno" ainda (em português, diria-se "menor").

Trata-se de um casal jovem, muito interessado nas minhas atividades jornalísticas e literárias e nas notícias (realísticas, não fantasiosas) que trago do Brasil. Ou seja, interessados no melhor que tenho a oferecer. E também com muita cultura e informação para a gente trocar, para eu aprender com eles. Laura está terminando a faculdade de economia. Mario é médico, trabalha num hospital em Berlin. Em 2006, ele foi recrutado para servir como soldado-médico no Afeganistão. Ficou lá por 2 meses. Ele toca violino e é muito interessado no sistema educacional da DDR (que, salvo as primeiras ressalvas nazistas, é realmente elogiável, pelo pouco que já aprendi conversando e vendo exemplos de livros). Os dois têm interesse especial por literatura, filosofia e religião.

Daqui a pouco virão alguns convidados, numa pequena festa que eles organizaram para me receber.

No mais, tudo indica que terei uma boa estada na Alemanha até agosto, quando obrigatoriamente terei que pegar meu vôo de volta à pátria amada. Claro que as coisas não vão ficar "Augusto no País das Maravilhas" para sempre, eu não me iludo. Mas que começou bem, não tem como negar.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Augusto Entrevista: segunda edição

E o entrevistado de hoje é o mimosíssimo Oliver, 8 anos, que veio da Inglaterra para ser meu grande amigo no judô. Ele fala inglês e alemão, por isso essa mistura doida no vídeo.



(Como era de se esperar, ele ficou tímido diante da câmera...)

No mais, hoje foi meu último dia de treino. Aproveitei para tirar uma foto da turma do sensei Alex Siemens, outra pessoa que me recebeu de braços abertos.

(Pena que hoje faltaram umas figurinhas carimbadas que também adoro e não estão na foto...)

Para se ter uma idéia de como me apeguei a essa turminha linda, veja as palavras que o diretor da associação esportiva da cidade, também judoca, pôs no meu certificado: "Augusto Paim é muito prestativo, amigo, pessoa de bem e muito querido pelos jovens atletas e colegas de treino. Como ele está deixando Haselünne, desejamos a ele tudo de bom e muito sucesso em seu novo caminho."

Essa alegria eu deixo um pouco aqui de brinde, mas tem muito mais para as novas pessoas que eu for conhecer (naturalmente, só se elas forem legais comigo também).

É isso. As despedidas servem para encerrar um velho ciclo. Que venha o que tiver de vier agora.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Tchau!

Sensação estranha... Estou num trem em direção a Berlim. Daqui mais ou menos duas horas vou conhecer uma família com quem, se o encontro presencial confirmar a grande empatia sentida por emails e telefonemas, devo morar nos próximos cinco meses. O trem vara a Alemanha de oeste a leste. Impossível não pensar no que está por vir e, na carona disso, no que já foi.

Realizei muitas coisas em seis meses morando em Haselünne. Não tem como dizer que não aproveitei. Em todas as áreas da vida. E fui um ótimo Aupair, preciso dizer. Você não tem como saber isso, mas eu sei. Fui um Aupair hipertextual que teve que se virar com inúmeras variações de um ambiente familiar diferenciado e converter tudo isso em energia positiva. Não foi fácil, preciso dizer. Mas deu certo.

Profissionalmente, foi ótimo. Estágio em jornal, primeira matéria internacional (aguarde, publico-a aqui logo), primeiras entrevistas e reportagens em alemão (não sei ainda se vão ser publicadas no jornal, mas, se forem, traduzo aqui). E também o programa Fiz Mundo, do qual muito me orgulho, pois não só ajudei a fazer, como fui co-concebedor da idéia, ao lado do meu amigo Leandro Lopes, da TV Minas. São na verdade dois programas. Se você não viu o primeiro, clique aqui! Trata-se de um programa internacional sobre a visão que os estrangeiros têm do nosso país. A proposta foi discutir a identidade nacional a partir do olhar alheio.

A segunda parte segue abaixo, em dois blocos.

Bloco 1:


Bloco 2:


No mais, fica esse sensação estranha de despedida e também de novo começo. Imagino as alianças e redes que farei agora próximo a Berlim, nos pouco mais de cinco meses que ainda me restam. Pois sou o cara da intermediação, do acordo, da rede, do grupo, do um mais um se somando para dar três. Se eu fosse morar numa fazenda, ficaria amigo das vacas, daria grama para elas por gentileza, escreveria sobre o processo de ruminação e proporia utilidades comunitárias pro leite e pro esterco. Em pouco tempo a fazenda seria outra.

Tchau, então, Nova Haselünne. Alguma coisa mudou com minha passagem, não? Um gordinho desajeitado que ao passar tira as cadeiras do lugar, esse sou eu.

Assim é a vida, assim é este blog. Mudando as histórias e os cenários de uma hora para outra. Assim é o ser humano, assim é o blog. O ponto de encontro entre o que se foi e o que vai ser, reunidos no que se é.

Agora é esperar ativamente o que vier.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Assim é a vida!

Algumas decisões são muito difíceis de serem tomadas. Mas se você não as toma, você não cresce, não rompe com algo que está ruim e te impedindo de ser feliz, de ser você mesmo. Às vezes parece que ser forte é agüentar no osso, mas para mim a coragem está na vontade de mudar, mesmo sabendo que tempos difíceis virão. Tudo bem para mim, se esses tempos difíceis forem necessários para uma estabilidade por vir, uma estabilidade melhor que a primeira. Eu mudo e nem tô.

Terça-feira disse para minha anfitriã que não queria mais morar aqui. Problemas de relacionamento entre adultos, visões de vida totalmente diferentes. Sem necessidade de entrar em detalhes. Quem me conhece sabe minha forma de viver e que estou aqui para acrescentar ao mundo, para conciliar. Se eu não consegui, é porque realmente não tive culpa.

O que me dói muito nessa decisão, mas muito mesmo, é saber que em breve não vou poder ver e abraçar todo dia Iládio, Benedito e Saboor, meus pequenos irmãos germano-brasileiro-afegães que aprendi a amar, a me divertir com eles sem esquecer de educar. Vou guardar vocês no coração, meninos. E vou visitá-los, escrever postais, torcer à distância que sigam crescendo saudáveis e bonitos. Não vou esquecer nunca do carinho que me deram nos últimos dias. Vocês fazem assim um marmanjo chorar...





Nos divertimos para caramba juntos, não? É isso que vai ficar. Nossa alegria. A única coisa que realmente importa nessa vida. Quem pensa que há coisas mais importantes, se engana. Preocupações meramente mundanas, vidas tocadas unicamente pelo pensamento profissional... Não, o que fica é justamente o que não fica.
So ist das Leben!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um novo jornalista surge na Alemanha

E ele se chama... Augostu Paim!

Afinal, este texto só deve pertencer à outra pessoa, porque eu não escolhi assinar com pseudônimo:




E olha que eu nem queria assinar. Explico por quê. Me incumbiram (leia-se "atocharam") a tarefa de, numa enquete para o encarte do final de semana, guiar uma estagiária de 16 anos que freqüentou o jornal por alguns dias, apenas para decidir que profissão seguir. Eu, com 23 anos e já uma certa experiência jornalística, não levei muito crédito da guria. Nem na parte (na qual os procedimentos jornalísticos são muito úteis) de parar as pessoas na rua para fazer perguntas sobre o aumento de algumas multas de trânsito, nem na orientação de como se escrever um artigo jornalístico padrão. Resultado: eu sou responsável pelas fotos da página, e apenas por isso. Deixei a guria escrever por conta, porque não queria ser Aupair de adolescente no jornal.

Não dei muita bola então para o resultado, apesar de ter ficado de cara não só por o texto ter saído com o meu nome, mas também por, pior que isso, meu nome ter saído errado. Mas talvez seja bom, pode parecer que o autor é outra pessoa!

No mais, a minha primeira reportagem de fato vai ser esta semana. Isso me deixa orgulhoso. Será minha verdadeira estréia no jornalismo alemão. Tenho uma entrevista quarta, em que vou fazer o trabalho completo: ofereci a pauta, que foi aprovada; contatei os entrevistados; marquei a entrevista; vou fazer fotos; entrevistar; e depois escrever o texto, que será publicado no final de semana.

Espero apenas que dessa vez eles assinem meu nome correto...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Jornalismo Literário alemão

Quarta-passada, eu estava sapiando (leia-se "estar sem fazer nada") durante meu estágio no jornal Meppener Tagespost. Resolvi abrir as páginas do tablóide, tentar decifrar aquelas palavras escritas numa língua para não ser decifrada. Dei de cara com um texto que, traduzindo, começa assim:

"Como se parecem as cores de verdade?
3000 alemães não sabem.

Nils têm cabelos castanhos, olhos castanhos, veste um jeans azul e uma camiseta azul claro. Apesar disso, o menino de 5 anos olha no espelho e enxerga a si mesmo cinza. (...)"

O texto é sobre uma doença cromática. O menino Nils a tem.

Eu fiquei impressionado com o texto. Em duas linhas, o autor tocou numa das principais questões que envolvem o enxergar tudo em preto-e-branco: a auto-imagem. Um texto escrito com sensibilidade, com cuidado, um texto difícil de fazer e que passa a sensação de vir fácil.

Eu passei dois dias tentando descobrir quem era o autor, pois a assinatura era da Deutsche Press Agentur (Agência Alemã de Notícias). Hoje sei: ele se chama Marco Hadem e trabalha em Düsseldorf. Ele talvez não saiba, mas fez jornalismo literário com essa matéria, um estilo jornalístico que procura se aprofundar e apurar muito mais do que apenas dados da realidade. Afinal, realidade são também nossos sentimentos, nossas percepções. E escrever um texto contando isso com propriedade, sem cair no sensacionalismo ou no pieguismo, é coisa para poucos.

Coisa para um cara que nem o Marcos Hadem. Parabéns a ele!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Fiz Mundo

Eis um projeto que idealizei e executei a partir da Alemanha (informações detalhadas você tem clicando aqui).

Bloco 1:


Bloco 2:


O programa continua semana que vem...