sexta-feira, 18 de maio de 2012

Proeza com a "Proa"

Com muito orgulho, mas muito orgulho MESMO, divulgo aqui uma revista que é mais do que uma publicação - é o ponto de encontro de inúmeras histórias e da minha própria história pessoal.

Deixa eu explicar desde o começo. Entre 2003 e 2007, cursei a faculdade de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), experiência acadêmica e de vida da qual sou muito grato. Entre as  pessoas importantes que conheci nesse período, está o professor Paulo Roberto de Oliveira Araujo, responsável pela minha formação em Jornalismo Literário. Tornamo-nos amigos, o que considero uma evolução natural de uma relação bem-sucedida entre aluno e professor. Mais do que isso, também desenvolvemos projetos juntos. O principal deles foi a criação das disciplinas complementares de Jornalismo Cultural e Jornalismo Literário, ofertadas aos estudantes da Facos/UFSM. Tive a oportunidade de conceber, na condição de monitor, o programa das duas disciplinas, junto com o Paulo. Também em parceria, montamos os cronogramas, preparávamos o material para uso dos alunos e avaliávamos cada aula.

Pois bem. Quando me formei, passei o bastão da monitoria para os colegas que vieram depois. A continuidade foi garantida, principalmente graças ao engajamento do Paulo. E eis que, passados já cinco anos da minha formatura, recebo aqui na minha casa, em Porto Alegre, esta revista aqui:


(Obviamente, recebi um exemplar impresso...)

Trata-se da edição zero da Revista Proa de Jornalismo Literário, editada pelo Paulo com a professora Viviane Borelli e a equipe de alunos.

Fico imensamente orgulhoso por ter sido citado no editorial, e muito lisongeado com a publicação de um conto meu - Para cima o santo não ajuda -, que aparece em destaque já nas primeiras páginas. Para mim, a revista representa não só o esforço pró-Jornalismo Literário do Paulo e seus monitores, mas também coroa essas relações de confiança e afeto que são intrínsecas às melhores experiências.

Recomendo a revista a todos os que lêem este blog e parabenizo imensamente ao professor Paulo pela proeza. Agradeço ainda pelo espaço e, principalmente, pela amizade.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Entre quadrinhos e traduções

Divulgo aqui uma entrevista que adorei responder. As perguntas são de Rodrigo Casarin e Alberto Naninni, para o blog Canto dos Livros. O tema: tradução, quadrinhos, jornalismo etc.

Leia a entrevista aqui!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Psicose

Ontem estive na plateia de um evento em que falava o professor Oswaldo Lopes Jr., um aficionado por cinema, quadrinhos, literatura e fotografia. Em suma, por tudo que há!

A fala dele girou em torno de adaptações de uma obra para diferentes linguagens. Reproduzo aqui um trecho que me parece exemplar. O professor falava de Psicose, filme de Hitchcock que é baseado num romance de Robert Bloch, que é baseado numa história real ocorrida nos Estados Unidos.

Esta é a cena clássica do filme de Hitchcock, de 1960:



Impactante ainda hoje!

Pois o professor Lopes trouxe o livro de Bloch. Fiz questão de copiar um trecho. Veja a mesma cena como ficou em prosa:

"Mary giggled again, then executed an amateurish bump and grind, tossed her image a kiss and received one in return. After that she stepped into the shower stall. The water was hot, and she had to add a mixture from the COLD faucet. Finally she turned both faucets on full force and let the warmth gush over her.

The roar was deafening, and the room was beginning to steam up.

That's why she didn't hear the door open, or note the sound of footsteps. And at first, when the shower curtains parted, the steam obscured the face.

Then she did see it there -- just a face, peering through the curtains, hanging in midair like a mask. A head-scarf concealed the hair and the glassy eyes stared inhumanly, but it wasn't a mask, it couldn't be. The skin had been powdered dead-white and two hectic spots of rouge centered on the cheekbones. It wasn't a mask. It was the face of a crazy old woman. 

Mary started to scream, and then the curtains parted further and a hand appeared, holding a butcher knife. It was the knife that, a moment later, cut off her scream.

And her head."

Assim, subitamente, termina o capítulo. Que dizer...? A prosa é tão impactante, tão bem feita quanto o filme. Dá para entender de onde Hitchcock retirou elementos para fazer a cena que se tornou um clássico da história do cinema.

***

Em tempo. Se é para citar Robert Bloch como musa de Hitchcock, não posso esquecer de também mencionar Ed Gein, o homem que inspirou tudo isso.

200 anos de contos de Fadas

Escrevi uma matéria para a Revista da Cultura sobre o bicentenário de Kinder- und Hausmärchen, a publicação dos irmãos Grimm que apresentou ao mundo, de forma sistematizada, uma imensidão de contos de fadas presentes na cultura ocidental. Quem quiser ler, clique aqui.

Mas a ideia deste blog não é só divulgar links, como também postar material extra, bastidores de reportagens etc. Aliás, mantenho este espaço justamente para casos como o de hoje.

Diana Corso, autora de Fadas no Divã, foi uma das entrevistadas da matéria. No texto que foi ao ar, recém lincado aí em cima, aparecem algumas poucas aspas dela, por motivos de economia de caracteres. O depoimento da Diana, porém, é bem mais completo do que isso. Perguntei-lhe sobre o poder fabular de readaptações contemporâneas para contos de fadas (como Shrek), e a reposta dela, por ser instigante demais para ficar escondida na minha caixa de entrada de emails, vem copiada abaixo:

"Os contos de fadas são a prova que em termos de referências ficcionais algumas coisas se perdem, mas muitas sobrevivem justamente porque se transformam. O imaginário é plástico como os sonhos: possui um acervo de referências, mas as utiliza livremente para montar enredos originais ou colocados a serviço das necessidades da mente do sonhador. Contos de fadas não têm um cânone, os que conhecemos já constituem sucessivas re-leituras, entre as quais as de Perrault e dos irmãos Grimm tornaram-se referências clássicas, mas também temos as importantes versões de Disney, assim como as inúmeras histórias correlatas ou simples variações da mesma trama, presentes no acervo de contos de diferentes culturas.

A Bela e a Fera, por exemplo, é uma típica história de noivo-animal, há muitas delas, mas que costuma ser tomada a partir da versão escrita por duas autoras francesas do séc XVIII; tem no filme de Cocteau, de 1946, outra importante fonte do imaginário associado a essa trama; além de que recentemente os Estúdios Disney transformaram a jovem, que era simplesmente boa, numa intelectual. As mudanças dessa heroína foram refletindo as das próprias mulheres, nada surpreende então que surja uma Branca de Neve que luta com seus punhos ou que entra em franca disputa de beleza com uma madrasta que se recusa a envelhecer! Shrek, o ogro aparentemente ranzinza, além de brincar livremente com todo esse acervo de contos, como o fazem as crianças na sua atividade lúdica, revelou-se principalmente um humorista. Ele faz graça com os elementos do passado ficcional, mas também com o presente, com a realidade do amor e da família contemporâneos. Além dessas mudanças, que customizam os personagens ao gosto da tendência narrativa de cada época, há o fato de que os contos de fadas foram sendo cada vez mais adaptados ao uso das crianças e cerceados para esse fim. Saídos da narrativa oral, das veladas dos trabalhadores cansados e dos contadores de histórias para o quarto das crianças, onde passaram alguns séculos, pelo jeito eles estão se voltando também para os grandes. Os jovens e adultos estão reivindicando a sobrevivência de seus antigos heróis para acompanhar os que já cresceram em sua jornada pela vida. Isso é um retorno, muitas dessas histórias já foram 'para gente grande', antes de virarem contos da carrochinha. Como se vê, elas se transformam!"