sábado, 31 de janeiro de 2009

Arte contemporânea alemã: garrafada e encontro com dançarino

Ontem estive na cidade de Karlsruhe, fazendo uma reportagem para o Itaú Cultural. Visitei o Museu de Arte e Mídias Eletrônicas, uma instituição respeitadíssima no mundo inteiro que trabalha com arte contemporânea e novas mídias. Mais do que isso, deixo para dizer depois, publicando daqui pouco mais de um mês a reportagem. No mais, fique com vídeos que gravei por lá:

A arte contemporânea está aí para deixar nossa vida mais surreal, como você viu, mas se você já tem uma vida surreal, você não precisa dela. Eu, por exemplo, não necessito da arte contemporânea, pois atraio surrealidades.

Por exemplo: voltando de trem de Karlsruhe para Frankfurt, onde passei alguns dias, dividi meu vagão com adolescentes alemães (a palavra "adolescentes" já dá arrepios; somada ao adjetivo "alemães", então, a combinação é drástica) bebendo cerveja pra caramba (o ato de beber cerveja triplica a periculosidade e o drama da situação). Eu no meu canto, escutando música no mp3. De repente uma garrafa de vidro voa na minha direção, atinge meu lindo joelho. Sim, os adolescentes alemães acharam bonito beber e atirar a cerveja pelo ar dentro do vagão, sem olhar.

Eu levantei, xinguei os alemães em alemão. Eles me convidaram para beber com eles. Eu titubeei, mas não aceitei. Tinha que sair por cima. Aí eles descem, eu tento voltar à normalidade, mas a pilha do meu mp3 acaba. Isso depois de um dia cheio, fazendo entrevistas em alemão. Eu reclamo da garrafada para a fiscal do trem, e ela nem dá bola. Meu telefone toca, sou convidado para uma festa em Frankfurt. Desligo, paro na frente da porta para descer, emburrado. Alguém diz: "brasileiro?"

Sim, sou, e daí? Vai encarar?

Claro que não respondi isso, o que foi bom. Quem perguntou foi um menino de 17 anos, vindo de Curitiba. Desde os 13 ele está em Stuttgart fazendo um curso profissional de dança, em uma companhia de porte internacional. Chegou aqui sozinho, sem a família, e sem falar alemão nem inglês. Brasileiro, ele não desiste nunca. Raçudo mesmo. E será recompensado: talvez em alguns meses surja uma apresentação em Nova Iorque.

Bem, para conhecer gente bacana, às vezes vale a pena tomar umas garrafadas no trem. Até porque um acontecimento que nem esse pode virar um enredo típico de muitas obras da arte contemporânea: fragmentadas (sorte que a garrafa não se fragmentou ao bater no meu joelho); às vezes sem sentido, é o artista muitas vezes que o constrói (eu sei que a garrafada e o encontro com o dançarino não têm conexão entre si, foram eventos diferentes; ainda assim, gostaria de ver como uma coisa só, para ter mais graça); e causador de estranhamento, de choque (a garrafa se chocou contra mim). Assim foi minha volta contemporânea do museu de arte contemporânea de Karlsruhe...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

domingo, 18 de janeiro de 2009

Augusto: versão diferente, versão européia!

Cansado de passar sufoco com seu nada sul-americano estilo Branco de Neve no verão escaldante brasileiro, Augusto Machado Paim decidiu ir para a Europa. Esquiar, fazer guerrinha de neve, essas coisas.

***

Sábado, estive em Goslar, região de Harz, num encontro de Aupairs. Turma gente fina pra caramba, atividades exóticas (para brasileiros), sem crianças para cuidar... Só podia render ótimas fotos, filmes e histórias.

Mas quem sai para a neve é para se gelar, então tem que ter uma roupa adequada. Tanto melhor será quanto mais próximo do estilo alemão típico. Com suspensório e tudo.




Depois da primeira camada de roupa, e depois da segunda e da terceira, um brasileiro disfarçado de alemão fica assim:


Uma visão panorâmica agora do equipamento completo, com os objetos de esqui que ajudam no disfarce.

Esquiar é um esporte que requer alto nível técnico. Uma excelente noção aerodinâmica pode fazer você esquiar a mais de 200 quilômetros por hora. Se você reparar na foto abaixo, por exemplo, a toca está levemente erguida para ajudar no escoamento do vento pelas laterais.


Na foto abaixo, eu não caí, embora tenha tido essa visão aí muitas vezes em tombos.


Neste momento, porém, eu só tinha feito uma pausa para tomar banho de sol na neve...


... e comer chocolate numa posição sensual!


Aproveito a pausa para explicar, num vocabulário gauchês, como se esquia. Os comentários são do companheiro Tiago.



Agora uma típica guerra de neve européia. Eu sou o ser de joelhos aquele, recebendo boladas de tudo que é lado.



Preciso dizer que não é fácil!





O Tiago foi o brasileiro que melhor se disfarçou de europeu, porque havia aprendido a esquiar na Noruega. Neste vídeo ele mostra toda sua técnica, sem saber que o esperamos com bolas de neve a postos.




Bem, isso tudo foi no sábado. No domingo, tirei um tempo para palestrar para os meus súditos em Goslar. Neste momento fiz jus ao título "Augusto". Ou "Augustus", como alguns alemães me chamam, dando a justa nomenclatura em latim.


Falei por longo tempo, que precisei molhar a garganta:


Depois me deixei ser fotografado junto ao meu irmão gêmeo.


E assim se foi um final de semana muito divertido aqui na Alemanha.
Sigo a procura de outros!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Dando notícias da Alemanha

Comecei meu estágio no jornal Meppener Tagespost semana passada, na quarta-feira. Me deram em torno de dez notas ("Meldungen") para escrever, a partir de releases. No Brasil, eu acharia um saco fazer isso, um desperdício de talento. Mas aqui é um excelente exercício para aprender alemão.

No dia seguinte, quinta-feira, 8 de janeiro de 2009, saíram duas notas minhas no jornal. Esta foi uma:



O título: "Polícia procura testemunhas de acidente". O acidente em questão, bem menos importante do que o título promete, são dois carros que se bateram os espelhos. Um estava na contramão e fugiu. Um jornalista deu uma boa editada no texto na minha frente, claro! O que também foi interessante, pois aprendi mais sobre o idioma. E eu acho que não conseguiria relatar em inglês essa situação da notícia, o que é um bom sinal do nível que estou na língua.

A segunda nota foi menos modificada, apenas algumas palavras trocadas de lugar. O título debochado, típico da minha pessoa, permaneceu inalterado: "Conversar e olhar filmes com senhores". É sobre um evento organizado por um asilo, convidando as pessoas a participar de uma sessão de vídeo e também passar algumas horas se entretendo com os moradores da casa.



Bem, as outras notícias que escrevi foram engavetadas, coisa típica de jornal, mais ainda de estagiário. O bom é que não me pediram para fazer café nem nada (se pedissem, eu já aprendi alguns xingamentos em alemão...). Os colegas são realmente muito legais, receptivos. Estou gostando de estagiar lá.

Sexta fui de novo no jornal. Foi quando me dei conta que jornalismo é jornalismo, independente do lugar. Explico porque digo isso. Eu acompanhava uma jornalista numa matéria externa (quer dizer, feita fora da redação), sobre uma agência de viagens. Ela precisava de uma foto. Chegando lá, não havia nenhum cliente. Adivinha quem teve de cumprir o papel?


(Enquete para os leitores do blog: estou mais interessado em viajar ou na mulher da agência mesmo?)


Não me orgulho nem me envergonho. Tive meu pequeno dia de fama, pois as pessoas comentaram comigo que me viram no jornal. Comentaram mais do que na vez em que realmente eu me orgulhei de estar lá. E eu compreendi que as rotinas jornalísticas podem ser muito parecidas, mesmo que a dezenas de milhares de quilômetros de distância.

Quando voltar ao Brasil, estarei muito experiente mesmo. Afinal, aqui no jornal escrevo e sou pauta, cobro escanteio e faço gol de cabeça!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Roda de chimarrão na Alemanha

A vida nos reserva muitas surpresas. Acabo de achar um inusitado parceiro pro mate aqui, no interior da Alemanha.

Ele gostou mesmo. Tanto que falei-lhe sobre os gaúchos, cantei-lhe músicas do Rio Grande do Sul. Ainda fizemos uma roda de chimarrão multicultural, porque a Kláudia, funcionária da clínica, também veio sentar com a gente. Ela queria saber como fazia, como tomava, etc. Brasil, Alemanha e Afeganistão unidos pelo mate.

Depois ficamos só eu e o Saboor e, falando sobre amor, ele me contava o que sentia por Marlena, sua coleguinha. Eu disse que ela tinha sorte de ter ele. Ele me perguntou por quê.

- Saboor, você é tudo que uma garota de sete anos pode querer!

Ele ficou lisongeado, e eu me estourei rindo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Post revoltado

Que droga essa reforma da língua portuguesa. Que os linguístas vão para o inferno! Vim para cá aprender a terceira língua, mas de volta ao Brasil vou ter de reaprender a primeira.

Certo que estão querendo me derrubar!

Causos de Haselünne

Cousas estranhas acontecem em Haselünne. Isso é fato. Mas quando Betinho esteve aqui, presenciamos três num mesmo dia, um recorde.

A primeira estranheza
Eu e Betinho carregávamos as útimas coisas para fora da casa velha da Christine, num último ato antes da entrega da propriedade para a proprietária, quando vimos passar na rua uma mulher com um pônei. O pônei todo encilhado, bonitaço. Me fez lembrar da vez que andei de pônei no pátio do shopping Iguatemi, em Porto Alegre, quando eu era pequeno.

Suspiramos, pois o dia estava lindo, e voltamos para dentro para trabalhar e tomar mate. Então, eis que preciso ir para fora de novo e vejo o pônei correndo em sentido contrário. Só o pônei, nenhuma mulher. Eu tento pará-lo, mas ele já vai longe, dobrando a esquina, a trote. Corro até lá. Um carro pára, a motorista na certa pensa que o pônei é meu. E o pônei vai lá longe, em direção a uma zona de supermercados, com muito tráfego.

Eu estou parado na esquina, o carro também. Olhamos o pônei lá longe. Viro para trás, vem uma mulher enorme numa bicicleta. Era a mulher que estava com o pônei antes. Ela conversa com o Betinho, que não sabe falar alemão. Ainda assim, eles se entendem muito rápido. Ela me vê na esquina e vem na minha direção. A mulher do carro entende agora a quem pertence o pônei e dá carona para a ciclista, que de outro jeito não conseguiria alcançar o animal de estimação.

Alguns minutos depois, vejo mulher e pônei reunidos em frente à casa. Uma menina chorando completa o conjunto. Ela havia se machucado com a fuga do pônei. Vou até lá ver se está tudo bem.

Quando a Sabine, funcionária da Christine, veio buscar coisas na casa velha, encontrou esta cena: o Aupair brasileiro da chefe dela parado junto a uma mulher enorme com sua bicicleta, um pônei todo encilhado e uma menina chorando. Será que ela entendeu algo?

A segunda bizarrice
Depois de passar hora e meia numa das três lan houses da cidade, ao sair eu e Betinho nos deparamos com um homem dando tiros na esquina, a trinta metros de nós. Primeiro achamos que eram fogos de artifício, mas nos assustamos ao ver o tamanho do perfil da pistola recortada pela lua e ver que não saía pirotecnia nenhuma.

Voltamos para a lan e avisamos a funcionária. Ela veio para fora olhar. Analisou a situação e concluiu que era apenas alguém comemorando a vinda do ano novo, pois estávamos na véspera. Desconfiados, eu e Betinho permanecemos lá, aguardando a chegada da Christine para nos buscar. Então o homem veio na nossa direção, pelo outro lado da calçada. Quando ele chegou mais perto, eu gritei:

- Philipp?!

Sim, era meu colega do time de futebol. Gente boa, não tenho o que reclamar dele. Ele veio até nós, apresentei o Betinho, ele nos apresentou a pistola. Contei a ele que tínhamos nos assustado.

Vou evitar fazer falta nele daqui para diante.

A terceira bizonhice
Fim de um dia de muito trabalho, a saudade das pessoas que deixamos no Brasil apertando, eu e Betinho só queríamos relaxar tomando uma(s) cerveja(s). Havíamos comprado no mercado, mas tínhamos um grande problema: como fazer para gelar?

Os alemães tomam cerveja gelada sim (embora não que nem a nossa), mas também não se importam de tomar cerveja quente. Não têm freezer nas casas, e as geladeiras são pequenas, porque o povo vai no mercado quase todo dia, comprando pouca coisa de cada vez. Não tínhamos como gelar nossa cerveja.

Aí eu falei para o Betinho para deixarmos lá fora. Ele duvidou que fosse gelar, mas não tínhamos outra saída. Ele mesmo se aventurou no frio e deitou as cervejas sobre o chão congelado. Fomos jantar e, em torno de uma hora depois, decidimos abrir uma garrafa. Adivinha! Foi a cerveja mais gelada que bebi na Alemanha até hoje. Desceu maravilhosamente bem, gelada como uma cerveja brasileira.

É isso. Em Haselünne, o freezer fica do lado de fora da casa. Alguém tem que contar isso para os alemães!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Augusto e Betinho em Paris são também cultura

Quem foi a Paris e não conheceu a célebre Passage de L'Union, não pode dizer que conheceu a capital francesa de fato. Eu e Betinho, pesquisadores da história e da cultura de onde quer que passamos, tiramos uma foto para registrar o momento único.



A nossa felicidade não tem explicação. Napoleão esteve na Passage de L'Union, embora só de passagem. Foi a apenas alguns metros dali que ele perdeu a guerra, no seu cavalo branco que ninguém sabe a cor. Pesquisadores procuram no local resquícios que comprovem a posição em que Napoleão perdeu a guerra. Ainda hoje todo sábado é celebrada uma missa em homenagem a ele. Perdemos porque queríamos visitar também a torre Eiffel, o Arco do Triundo, o Museu do Louvre e a catedral de Notre Dame, não tão importantes quanto a Passage de L'Union, mas que mereciam nossa atenção.