Ontem estive na cidade de Karlsruhe, fazendo uma reportagem para o Itaú Cultural. Visitei o Museu de Arte e Mídias Eletrônicas, uma instituição respeitadíssima no mundo inteiro que trabalha com arte contemporânea e novas mídias. Mais do que isso, deixo para dizer depois, publicando daqui pouco mais de um mês a reportagem. No mais, fique com vídeos que gravei por lá:
A arte contemporânea está aí para deixar nossa vida mais surreal, como você viu, mas se você já tem uma vida surreal, você não precisa dela. Eu, por exemplo, não necessito da arte contemporânea, pois atraio surrealidades.
Por exemplo: voltando de trem de Karlsruhe para Frankfurt, onde passei alguns dias, dividi meu vagão com adolescentes alemães (a palavra "adolescentes" já dá arrepios; somada ao adjetivo "alemães", então, a combinação é drástica) bebendo cerveja pra caramba (o ato de beber cerveja triplica a periculosidade e o drama da situação). Eu no meu canto, escutando música no mp3. De repente uma garrafa de vidro voa na minha direção, atinge meu lindo joelho. Sim, os adolescentes alemães acharam bonito beber e atirar a cerveja pelo ar dentro do vagão, sem olhar.
Eu levantei, xinguei os alemães em alemão. Eles me convidaram para beber com eles. Eu titubeei, mas não aceitei. Tinha que sair por cima. Aí eles descem, eu tento voltar à normalidade, mas a pilha do meu mp3 acaba. Isso depois de um dia cheio, fazendo entrevistas em alemão. Eu reclamo da garrafada para a fiscal do trem, e ela nem dá bola. Meu telefone toca, sou convidado para uma festa em Frankfurt. Desligo, paro na frente da porta para descer, emburrado. Alguém diz: "brasileiro?"
Sim, sou, e daí? Vai encarar?
Claro que não respondi isso, o que foi bom. Quem perguntou foi um menino de 17 anos, vindo de Curitiba. Desde os 13 ele está em Stuttgart fazendo um curso profissional de dança, em uma companhia de porte internacional. Chegou aqui sozinho, sem a família, e sem falar alemão nem inglês. Brasileiro, ele não desiste nunca. Raçudo mesmo. E será recompensado: talvez em alguns meses surja uma apresentação em Nova Iorque.
Bem, para conhecer gente bacana, às vezes vale a pena tomar umas garrafadas no trem. Até porque um acontecimento que nem esse pode virar um enredo típico de muitas obras da arte contemporânea: fragmentadas (sorte que a garrafa não se fragmentou ao bater no meu joelho); às vezes sem sentido, é o artista muitas vezes que o constrói (eu sei que a garrafada e o encontro com o dançarino não têm conexão entre si, foram eventos diferentes; ainda assim, gostaria de ver como uma coisa só, para ter mais graça); e causador de estranhamento, de choque (a garrafa se chocou contra mim). Assim foi minha volta contemporânea do museu de arte contemporânea de Karlsruhe...
3 comentários:
Nem vou dizer que fiquei chocada, porque quem se chocou foi a garrafa - contra ti, hehe
Beijo da lonqínqua e saudosa Santa Maria,
Lilian
(pra tu vê, às vezes eu passo por aqui!)
Bjo para o meu irmão surreal (existe uma alguma marca de chocolate com este nome? Se não, poderíamos lançar no mercado)!rsrsrs
Eu, se a garrafa batesse no meu joelho... nem conseguiria falar (de cara), mas depois, ao retomar a fala. sairia um CABRUNCO!!! bem sonoro que meteria medo em qualquer adolescentezinho alemão, cheio de cana. kkkkkkkkkkkkkk. Depois sairia mancando, claro. kkkkkkkkkkkkkkk
Postar um comentário