quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PRESS RELEASE

Jornalismo em Quadrinhos

Encontro internacional reúne em Curitiba especialistas nesse novo jeito de se fazer reportagem usando a linguagem dos quadrinhos.

Na década de 1990, o jornalista e desenhista maltês Joe Sacco teve a ideia de juntar suas duas profissões numa só: surgia assim Palestina, uma série de reportagens em quadrinhos sobre as disputas territoriais entre israelenses e palestinos. Seguiram-se outros livros-reportagens sobre conflitos no Oriente Médio, que deram projeção mundial à obra de Joe Sacco. Hoje, duas décadas depois, o Jornalismo em Quadrinhos cresce e ganha seguidores em todo mundo, dando origem a uma nova safra de HQ-repórteres.

Entre 24 e 27 de outubro de 2012, especialistas no tema estarão reunidos, na capital paranaense, para participar do II Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos. São jornalistas, desenhistas e pesquisadores, que participarão de mesas-redondas e palestras. Outra atração do evento é a exposição Cartoon Movement - o mundo através do jornalismo quadrinhos, que exibe reportagens em quadrinhos realizadas em diferentes regiões do mundo. Tanto a exposição quanto os debates ocorrem na Fábrika (Rua Reinaldino S Quadros, 33 - Alto da Rua XV), em Curitiba. Todas as atividades do EIJQ têm entrada franca e são abertas ao público em geral.

O II EIJQ é um evento integrante da Gibicon nº 1 – a Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba e é realizado em parceria com o Goethe-Institut Curitiba. A curadoria é do jornalista Augusto Paim. Consulte a programação do II EIJQ e a programação completa da Gibicon no site www.gibicon.com.br. Outras informações pelo telefone 41 3262-8244. 

Serviço:
II Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos
24 a 27 de outubro de 2012
Goethe-Institut (Fábrika)
Rua Reinaldino S. de Quadros, 33, Alto da Rua XV
Curitiba / PR
Entrada franca
Informações 41 3262-8244

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Um dia bonito na Alemanha

No domingo retrasado acordei relativamente cedo para a manhã que sucede uma festa: 11 horas. Duas pessoas estavam montando a cozinha nova, de modo que a sala (tudo fica numa peça só) estava impossível de transitar. Eu decidi dar uma mão e pintar o teto do corredor em frente ao meu quarto, pois na segunda-feira viria um profissional pôr papel de parede, e o teto tinha de estar pronto. Aproveitei e dei uma demão de tinta no banheiro também. As crianças, enquanto isso, olhavam tevê na sala de espera do consultório dentro de casas de papelão construídas por eles mesmos com as sobras da cozinha nova.

Assim se passaram algumas horas. Depois, quando eu já não tinha mais nada para pintar, as crianças estavam de saco cheio de ver filme e a sala continuava intransitável, fui passear com os meninos. A idéia era jogar bola num campo aqui perto. O dia estava realmente perfeito para isso. Foi uma decisão correta levar a tiracolo minha máquina fotográfica, pois as fotos ficaram muito bonitas.



No fim do dia, as crianças ainda tinham energia para fazer biscoitos e estrear a cozinha nova. Confortavelmente sem camisa, já que a casa tem calefação.

Laura, Betinho e Augusto em processo de alemanização

Eu e o Betinho voltamos juntos de Paris tal qual Joquim, o inventor incompreendido da música homônima do Vítor Ramil: estávamos morrendo de frio. Mas foto na neve é algo que não tem preço. Quem vê não imagina que estamos tremendo de corpo inteiro, apenas acha chique. Então no primeiro dia em Meppen, norte da Alemanha, já providenciamos as nossas. O lago chegou a congelar.





Nesse dia e nos próximos, eu e o Betinho ajudamos com a última parte da mudança da casa da família com quem estou morando. Ele conheceu o Saboor e o Benedito, os piás que cuido.



Depois, na quarta-feira véspera de Ano Novo, chegou a Laura.


De modo que passamos alguns dias assim, com três brasileiros na casa. A Laura estudando alemão, o Betinho sem saber uma palavra mas aprendendo com as crianças.
Sábado a Laura foi embora. Hoje foi a vez do Betinho. Agora, para rimar, estou de novo sozinho.

Quando Jesus andou sobre as águas, o fez no inverno alemão!


Num dia bonito aqui (coisa rara nessa época do ano), o pessoal costuma ir para o lago congelado sapiar, aproveitando as poucas horas de sol. Veja fotos de como foi hoje, por exemplo.





Agora vídeos:










No segundo vídeo, Iládio explica que prefere ficar na Alemanha durante o verão, e no Brasil durante o inverno (porque aí é verão agora).

É isso. Hoje foi o único dia que não fiquei com inveja de vocês, que estão no Brasil pegando praia... Eu passei me sentindo Jesus, caminhando sobre o lago!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Susi & Vlad 2: a origem de Vlad

Na postagem anterior, divulguei aqui a reportagem Susi & Vlad, sobre a bióloga Susi Pacheco e sua paixão por morcegos. O texto integral foi publicado na edição 61 da revista Brasileiros. Como prometido, divulgo aqui um material extra que não está lá. Trata-se de um texto incrível, escrito por Tatiana Prevedello, estudante de Letras que, curiosamente, passou muito tempo estudando literatura gótica. Prevedello foi a pessoa que encontrou o morcego Vlad na rua e, com uma atenção bastante inusitada em situações como essa, entregou-o à Susi.

Considero esse texto a parte 1 do relato sobre a Susi e o Vlad. A parte 2 é a reportagem que eu escrevi. Dito de outra forma: minha reportagem é O Senhor dos Anéis, o relato de Prevedello é O hobbit. Assim, quando terminar de ler o texto abaixo, recomendo seguir adiante na reportagem. Ou fazer na ordem contrária.

***


"Relato sobre o encontro do morcego Vlad e localização da bióloga Susi Pacheco
  
por Tatiana Prevedello

No dia 12 de dezembro de 2011, segunda-feira, em torno de 07h45min, estava a caminho do trabalho quando me deparei com algo na calçada, em decúbito dorsal, a se agitar de uma maneira agonizante. Imaginei, no primeiro momento, que se tratava de um filhote de pássaro caído do ninho, pois na noite anterior havia ventado muito. Todavia, ao aproximar-me para recolhê-lo do chão percebi que era um morcego e, em minha análise insipiente, acreditei que fosse recém-nascido. Não trazia nada comigo onde pudesse abrigá-lo de uma forma cuidadosa, e a única alternativa foi envolvê-lo em um pequeno lenço, guardado na caixa dos óculos de sol. Por alguns instantes busquei examinar se, nas árvores da rua, existia algum vestígio do local de onde ele havia caído, mas não encontrei nada que me oferecesse uma resposta segura.


[A estrela vermelha marca o exato local onde o Vlad foi encontrado, na Rua Veríssimo Rosa, entre as Avenidas Ipiranga e Bento Gonçalves, em Porto Alegre.]

Optei por levá-lo ao colégio onde trabalho e conversar com os biólogos, que lá encontraria, sobre qual seria a melhor forma de atendê-lo. As pessoas para quem o apresentei, com exceção de uma professora e uma funcionária, demonstraram sentir medo e repulsa do morcego, além de julgarem incompreensível a minha atitude de recolhê-lo. Fui aconselhada por uma das biólogas a colocá-lo em uma árvore no pátio, pois ela não conhecia nenhuma alternativa que poderia ser mais eficiente. Acreditei, no entanto, ser insensato expor dessa forma uma criatura que aparentava tanta fragilidade e, além do mais, não sabia se a queda havia provocado alguma fratura que pudesse comprometer os seus movimentos. Como ele não teria condições de resistir se apenas fosse deixado ao ar livre, abriguei-o em uma pequena caixa e levei comigo para a biblioteca, setor onde trabalho. Tratando-se de um mamífero, tentei conseguir com a funcionária que havia se solidarizado um pouco de leite para alimentá-lo, mas a única bebida com características semelhantes que havia naquela manhã era iogurte de morango, que seria servido na merenda. Não tinha certeza se a composição do iogurte era adequada e fiquei com medo que alguma substância pudesse causar intoxicação, mas como não possuía outro recurso, ofereci o iogurte a ele, que veio a consumir as pequeníssimas quantidades que lhe eram dadas de uma forma muito voraz. 
Por não ter um recipiente adequado para transportá-lo para casa no intervalo do almoço, decidi deixá-lo na escola, no local que considerei ser o mais seguro. O passo seguinte seria pesquisar por instituições e descobrir algum estudioso dedicado à área de quiropterologia, que pudesse orientar-me a respeito da melhor forma de atendê-lo. Julguei que a UFRGS e a PUCRS seriam as melhores opções para proceder ao início da investigação. Todavia, no horário entre 12:00 e 13h30min, os setores das universidades estavam fechados e, então, busquei outras alternativas que, no momento, poderiam trazer-me alguma solução. Primeiro, liguei para o Parque Zoológico do Jardim Botânico, com o propósito de saber se recebiam animais que houvessem sido resgatados em situação de risco. Conforme me explicou o responsável pelo Parque Zoológico, o Jardim Botânico era autorizado a recolher animais apenas sob o encaminhamento de órgãos como o Ibama e a Polícia Federal. No segundo momento, entrei em contato com alguns pet shops e clínicas de animais, na esperança de encontrar um veterinário que pudesse me oferecer informações pontuais sobre os cuidados necessários ou propor alternativas que indicassem para onde direcionar o morcego. Novamente, não obtive nenhuma solução. Passei a consultar sites sobre o assunto e descobri que, no exterior, em países como a Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, haviam muitos pesquisadores dedicados ao resgate e a reabilitação de morcegos, encontrados desabrigados ou vitimados por fraturas em decorrência de tempestades. Localizei, também, algumas instituições brasileiras que se dedicavam ao assunto, mas naquela circunstância não encontrei nenhuma referência relativa a Porto Alegre. 
Como precisava retornar ao trabalho, a única solução imediata que se apresentou ao meu alcance foi passar no supermercado, comprar uma caixa de leite para alimentá-lo com um produto mais adequado e retomar as buscas ao final do meu expediente. Durante aquela tarde, ainda no colégio, alimentei o morcego diversas vezes com leite, oferecido em uma pequena colher, o qual ele continuava a sorver com muita voracidade. Uma professora estagiária da turma infantil do 2º ano sensibilizou-se com a situação e auxiliou-me a acomodá-lo em uma caixa, que foi utilizada para transportá-lo para casa com mais segurança.
Após as 17 horas, quando retornei para casa, liguei para o departamento de Ciências Biológicas da UFRGS, a procura de professores ou alunos de pós-graduação que desenvolviam pesquisas relacionadas à quiropterologia. Indicaram-me a Profª. Marta Fábian, a qual, conforme pude observar em seu currículo, é uma grande especialista na área. No entanto, não consegui localizá-la por telefone. Em seguida, entrei em contato com a coordenação do curso de Biologia da PUCRS e a minha ligação foi transferida para o Museu de Ciências e Tecnologia. Fui informada que o MCT não realizava o acolhimento de animais nessa situação. Aconselharam-me a recolocar o morcego, assim que anoitecesse, no mesmo local onde ele havia sido encontrado, pois como os sensores espaciais da espécie são bem desenvolvidos, ao retornar ao seu lugar de origem ele conseguiria se localizar com facilidade ou ser identificado por familiares, sobretudo pela mãe que, conforme descobri, são bastante dedicadas e têm um senso de proteção muito grande. 
Aquela noite anunciou uma nova tempestade, e devolvê-lo ao local onde eu havia o encontrado seria colocar a sua situação em extremo risco e liquidar qualquer chance de sobrevivência. Acreditei, assim, que seria mais seguro permanecer comigo em casa e providenciei um abrigo para que ele pudesse ser instalado, alguns utensílios para manuseá-lo com segurança, como luvas de látex, e uma seringa, que foi utilizada para alimentá-lo com leite. Permaneci, ainda, com uma grande preocupação pelo fato de o dia ter chegado ao final e não ter conseguido o encaminhamento certo, principalmente porque na manhã seguinte, 13/12/2011, deveria fazer uma viagem a Santa Maria, ainda cedo, e retornar somente ao final da noite. Optei, contudo, por conservá-lo em casa, mesmo ao avaliar que poderia ser arriscado mantê-lo por mais de 15 horas sem alimentação e sem saber em que condições de saúde o animal se encontrava. No inicio da manhã, ele recebeu leite e os cuidados que julguei serem necessário. Em seguida, coloquei o mesmo em um local escuro, protegido do sol, para que não houvesse riscos de exposição à luz ou de uma possível queda se ele decidisse tentar voar. Quando retornei de Santa Maria já passava da meia-noite e, para minha surpresa, ele havia permanecido no mesmo local e posição em que eu havia deixado antes de sair. Tornei a alimentá-lo com leite, e ainda cheguei a oferecer-lhe frutas, o que ele recusou. A forma como sorvia o leite revelava uma fome insaciável, pois aceitava até o ponto em que eu continuava a lhe dar o alimento, não fazendo nenhuma objeção.
Na quarta-feira, 14/12/2011, ao reiniciar a procura por um especialista que pudesse vir a tratar do morcego encontrei, na página da Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros, um folder com informações sobre esses animais, elaborado em decorrência de o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA/UNEP) ter elegido o período de 2011-2012 como o Ano Internacional do Morcego. O referido folder trazia uma relação de especialistas sobre o assunto de todo o Brasil, juntamente com nome das instituições às quais os mesmos pertenciam e referências para contato. No espaço destinado ao Rio Grande do Sul, encontrei os nomes dos profissionais que poderiam atender em Porto Alegre e, entre eles estava a professora da UFRGS, Marta Fábian, com a qual não havia conseguido fazer contato telefônico, e a bióloga Susi Pacheco, para quem liguei em seguida. Recebi da bióloga instruções por telefone e decidimos que, na tarde daquele mesmo dia, levaria o morcego ao Instituto Sauver, onde ela trabalha. Procedi conforme combinamos, entreguei o morcego a Dra. Susi que, ao examiná-lo, logo identificou a sua espécie e descreveu-me com exímios detalhes as características essenciais da mesma. A bióloga também me esclareceu que não se tratava de um filhote, mas de um jovem morcego no início da idade adulta, de natureza insetívora. A intenção inicial, conforme o parecer da Dra. Susi, era reabilitá-lo em devolvê-lo à natureza. No entanto, foram diagnosticados uma pequena fratura, provavelmente ocasionada em decorrência da queda, e um problema de má formação das asas, que apresentavam uma discrepância no tamanho. Conforme a Dra. Susi relatou-me em contatos posteriores, essas razões fizeram com que o morcego, que se tornou meu 'afilhado' e na ocasião de nosso encontro foi batizado com o nome de Vlad (durante o tempo em que permaneceu em minha casa não havia recebido nome, pois eu não consegui identificar a qual gênero pertencia), permanecesse sob os cuidados de sua equipe de trabalho.


   [Cartão que Susi Pacheco enviou-me por ocasião do Natal.]"

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A bat-reportagem!

Faz um tempo que ando criculando pelas redes sociais com esta foto aqui,


do Tadeu Vilani, da mesma forma que ostentei por semanas, no msn, a frase "Vem aí uma bat-reportagem..."

Pois bem, a bat-reportagem finalmente foi publicada, então já posso falar dela. Está na edição 61, de agosto de 2012, da revista Brasileiros. O conteúdo só pode ser acessado comprando o exemplar nas bancas. Como chamariz, publico aqui o início da reportagem:

"Susi e Vlad

Eis a história da luta enfrentada por uma incansável bióloga para salvar um animal do qual a maioria das pessoas sente medo, muuuuuito medo.

por Augusto Paim

Porto Alegre, quase 10h da manhã. Pela clínica veterinária Toca dos Bichos, costumam passar gatos, cachorros, pássaros, tartarugas e coelhos. Nesta sexta- feira, 16 de março, porém, em breve irromperá pela porta um animal que não se costuma ver por aqui.

Na sala de espera, ouve-se um papagaio cantando a versão gaúcha do parabéns a você (“Parabéns, parabéns / saúde, felicidade / que tu colha sempre todo dia / paz e alegria na lavoura da amizade”). Lá fora, um macaco maneta tenta fazer as acrobacias próprias da sua natureza apesar das novas limitações físicas. É nesse cenário que surge Susi, 49 anos. Ela chega sorrindo – sempre sorrindo –, o cabelo arrumado num coque no alto da cabeça. Traz entre as mãos um pequeno pano branco, dobrado em dois. Ela deposita-o sobre o balcão. Abre. Entrevê-se agora o pequeno e calmo Vlad. Pesando apenas 12 gramas, ele é mais leve que uma barrinha de cereal." [...]

Em breve publico aqui um relato de como o morceguito Vlad foi parar nas mãos da Susi. Essa é uma história que não está na reportagem.

Em tempo: a história da Susi e do Vlad foi uma das narrativas que mais me deu prazer em apurar e produzir, nos últimos tempos. É, de fato, uma história muito comovente. Espero que o leitor seja minimamente contagiado por isso.

Boa leitura!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Aldeia Global

Não faz muito, em junho, enquanto flanava pelas ruas de Paraty, RJ, dias antes da famigerada FLIP começar, conversei com muita gente e conheci muita história bacana. Nessas horas de bate-papos despreocupados, apesar do estado de relaxamento em que me encontrava, meus ouvidos de jornalista estavam sempre atentos a qualquer possibilidade de pauta.

Foi assim que um dia, por acaso, fiquei sabendo duma história no mínimo inusitada: que uma professora licenciada em informática estava traduzindo o BrOffice (versão brasileira e aberta do Word) para a língua dos índios.

Considero esse um achado. Mesmo. Porque essa professora não divulga seu trabalho. Porque sequer seus colegas mais próximos sabiam disso. Eles reagiam surpresos quando eu contava: "O quê? A Gilmara está traduzindo um software pro guarani???"

Claro que desse estopim inicial que foi a ideia da pauta até a versão final, que acaba de ser publicada (veja abaixo), houve muita apuração, pesquisa de novas fontes, entrevistas conseguidas a fórceps e tudo que costuma pertencer à rotina jornalista. Mas esse imenso trabalho só foi possível por causa da conversa que tive por acaso com a Gilmara, num dia em que dividimos um táxi para voltar da Associação Cairuçu (onde ministrei uma oficina de quadrinhos) até a cidade de Paraty. É por isso que dedico essa reportagem a ela.

 ***

"Aldeia Global

Em Paraty Mirim, RJ, localizada a cerca de meia hora de Paraty (a cidade da FLIP), uma comunidade indígena vive as primeiras experiências de conexão com a internet.

por Augusto Paim

Choveu bastante entre os dias 7 e 8 de julho, o final de semana da Festa Literária Internacional de Paraty, e por isso os ônibus que iam para Paraty Mirim tiveram que permanecer na garagem da empresa. Em momentos como esse, bastante comuns, a aldeia fica isolada, e a comunicação só pode ser feita pelos telefones celulares e, recentemente, pela internet."

[continue lendo].

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Atlas literário-geográfico

Eis um assunto pouco divulgado, infelizmente: o IBGE produziu uma série chamada Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras. Leia o trecho do já antigo press release:

"Em 2006, com o lançamento do volume Brasil Meridional, o IBGE deu início à coleção Atlas das representações literárias de regiões brasileiras, que tem por objetivo identificar e representar, através de mapas em diferentes escalas, fotos e imagens de satélite, regiões brasileiras que constituíram elemento marcante da trama de algumas das grandes obras da Literatura nacional, construindo, dessa forma, um mapeamento onde a identidade é o elemento central para individualização dos diferentes segmentos territoriais que compõem o quadro nacional."

Aqui é possível acessar, gratuitamente, o volume 1, sobre o Brasil meridional. Já o volume 2, sobre o Sertão, está disponível aqui. Divirtam-se!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A capa das capas

Eis um trabalho especial. Começou como uma reportagem relativamente simples sobre capas de livros, pauta que eu mesmo ofereci como uma das matérias que integrariam o conteúdo da terceira edição da Revista Pessoa. Durante o desenvolvimento da reportagem, porém, ela foi crescendo de importância, crescendo, crescendo... Acabou virando a matéria de capa!

(Um detalhe que me deixa muito contente e que não pode ser percebido pelo leitor: as duas frases estampadas como manchete - "A capa é o rosto do livro. Ela pisca para o leitor" - eram o subtítulo da minha reportagem.)

Folheie. Leia. Sinta.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Aproximações entre a Palestina e o Rio de Janeiro

Com muito orgulho, divulgo aqui a minha colaboração com o instituto Melton Prior, localizado em Düsseldorf, na Alemanha. Escrevi para eles um relato sobre o processo de produção da reportagem em quadrinhos Inside the Favelas, relacionando a minha experiência nas favelas do Rio de Janeiro com as de Joe Sacco na Palestina. O ensaio, em inglês, pode ser lido na seção de notícias do site do instituto. Tem que procurar pela data de publicação: 3 de junho de 2012.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Proeza com a "Proa"

Com muito orgulho, mas muito orgulho MESMO, divulgo aqui uma revista que é mais do que uma publicação - é o ponto de encontro de inúmeras histórias e da minha própria história pessoal.

Deixa eu explicar desde o começo. Entre 2003 e 2007, cursei a faculdade de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), experiência acadêmica e de vida da qual sou muito grato. Entre as  pessoas importantes que conheci nesse período, está o professor Paulo Roberto de Oliveira Araujo, responsável pela minha formação em Jornalismo Literário. Tornamo-nos amigos, o que considero uma evolução natural de uma relação bem-sucedida entre aluno e professor. Mais do que isso, também desenvolvemos projetos juntos. O principal deles foi a criação das disciplinas complementares de Jornalismo Cultural e Jornalismo Literário, ofertadas aos estudantes da Facos/UFSM. Tive a oportunidade de conceber, na condição de monitor, o programa das duas disciplinas, junto com o Paulo. Também em parceria, montamos os cronogramas, preparávamos o material para uso dos alunos e avaliávamos cada aula.

Pois bem. Quando me formei, passei o bastão da monitoria para os colegas que vieram depois. A continuidade foi garantida, principalmente graças ao engajamento do Paulo. E eis que, passados já cinco anos da minha formatura, recebo aqui na minha casa, em Porto Alegre, esta revista aqui:


(Obviamente, recebi um exemplar impresso...)

Trata-se da edição zero da Revista Proa de Jornalismo Literário, editada pelo Paulo com a professora Viviane Borelli e a equipe de alunos.

Fico imensamente orgulhoso por ter sido citado no editorial, e muito lisongeado com a publicação de um conto meu - Para cima o santo não ajuda -, que aparece em destaque já nas primeiras páginas. Para mim, a revista representa não só o esforço pró-Jornalismo Literário do Paulo e seus monitores, mas também coroa essas relações de confiança e afeto que são intrínsecas às melhores experiências.

Recomendo a revista a todos os que lêem este blog e parabenizo imensamente ao professor Paulo pela proeza. Agradeço ainda pelo espaço e, principalmente, pela amizade.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Entre quadrinhos e traduções

Divulgo aqui uma entrevista que adorei responder. As perguntas são de Rodrigo Casarin e Alberto Naninni, para o blog Canto dos Livros. O tema: tradução, quadrinhos, jornalismo etc.

Leia a entrevista aqui!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Psicose

Ontem estive na plateia de um evento em que falava o professor Oswaldo Lopes Jr., um aficionado por cinema, quadrinhos, literatura e fotografia. Em suma, por tudo que há!

A fala dele girou em torno de adaptações de uma obra para diferentes linguagens. Reproduzo aqui um trecho que me parece exemplar. O professor falava de Psicose, filme de Hitchcock que é baseado num romance de Robert Bloch, que é baseado numa história real ocorrida nos Estados Unidos.

Esta é a cena clássica do filme de Hitchcock, de 1960:



Impactante ainda hoje!

Pois o professor Lopes trouxe o livro de Bloch. Fiz questão de copiar um trecho. Veja a mesma cena como ficou em prosa:

"Mary giggled again, then executed an amateurish bump and grind, tossed her image a kiss and received one in return. After that she stepped into the shower stall. The water was hot, and she had to add a mixture from the COLD faucet. Finally she turned both faucets on full force and let the warmth gush over her.

The roar was deafening, and the room was beginning to steam up.

That's why she didn't hear the door open, or note the sound of footsteps. And at first, when the shower curtains parted, the steam obscured the face.

Then she did see it there -- just a face, peering through the curtains, hanging in midair like a mask. A head-scarf concealed the hair and the glassy eyes stared inhumanly, but it wasn't a mask, it couldn't be. The skin had been powdered dead-white and two hectic spots of rouge centered on the cheekbones. It wasn't a mask. It was the face of a crazy old woman. 

Mary started to scream, and then the curtains parted further and a hand appeared, holding a butcher knife. It was the knife that, a moment later, cut off her scream.

And her head."

Assim, subitamente, termina o capítulo. Que dizer...? A prosa é tão impactante, tão bem feita quanto o filme. Dá para entender de onde Hitchcock retirou elementos para fazer a cena que se tornou um clássico da história do cinema.

***

Em tempo. Se é para citar Robert Bloch como musa de Hitchcock, não posso esquecer de também mencionar Ed Gein, o homem que inspirou tudo isso.

200 anos de contos de Fadas

Escrevi uma matéria para a Revista da Cultura sobre o bicentenário de Kinder- und Hausmärchen, a publicação dos irmãos Grimm que apresentou ao mundo, de forma sistematizada, uma imensidão de contos de fadas presentes na cultura ocidental. Quem quiser ler, clique aqui.

Mas a ideia deste blog não é só divulgar links, como também postar material extra, bastidores de reportagens etc. Aliás, mantenho este espaço justamente para casos como o de hoje.

Diana Corso, autora de Fadas no Divã, foi uma das entrevistadas da matéria. No texto que foi ao ar, recém lincado aí em cima, aparecem algumas poucas aspas dela, por motivos de economia de caracteres. O depoimento da Diana, porém, é bem mais completo do que isso. Perguntei-lhe sobre o poder fabular de readaptações contemporâneas para contos de fadas (como Shrek), e a reposta dela, por ser instigante demais para ficar escondida na minha caixa de entrada de emails, vem copiada abaixo:

"Os contos de fadas são a prova que em termos de referências ficcionais algumas coisas se perdem, mas muitas sobrevivem justamente porque se transformam. O imaginário é plástico como os sonhos: possui um acervo de referências, mas as utiliza livremente para montar enredos originais ou colocados a serviço das necessidades da mente do sonhador. Contos de fadas não têm um cânone, os que conhecemos já constituem sucessivas re-leituras, entre as quais as de Perrault e dos irmãos Grimm tornaram-se referências clássicas, mas também temos as importantes versões de Disney, assim como as inúmeras histórias correlatas ou simples variações da mesma trama, presentes no acervo de contos de diferentes culturas.

A Bela e a Fera, por exemplo, é uma típica história de noivo-animal, há muitas delas, mas que costuma ser tomada a partir da versão escrita por duas autoras francesas do séc XVIII; tem no filme de Cocteau, de 1946, outra importante fonte do imaginário associado a essa trama; além de que recentemente os Estúdios Disney transformaram a jovem, que era simplesmente boa, numa intelectual. As mudanças dessa heroína foram refletindo as das próprias mulheres, nada surpreende então que surja uma Branca de Neve que luta com seus punhos ou que entra em franca disputa de beleza com uma madrasta que se recusa a envelhecer! Shrek, o ogro aparentemente ranzinza, além de brincar livremente com todo esse acervo de contos, como o fazem as crianças na sua atividade lúdica, revelou-se principalmente um humorista. Ele faz graça com os elementos do passado ficcional, mas também com o presente, com a realidade do amor e da família contemporâneos. Além dessas mudanças, que customizam os personagens ao gosto da tendência narrativa de cada época, há o fato de que os contos de fadas foram sendo cada vez mais adaptados ao uso das crianças e cerceados para esse fim. Saídos da narrativa oral, das veladas dos trabalhadores cansados e dos contadores de histórias para o quarto das crianças, onde passaram alguns séculos, pelo jeito eles estão se voltando também para os grandes. Os jovens e adultos estão reivindicando a sobrevivência de seus antigos heróis para acompanhar os que já cresceram em sua jornada pela vida. Isso é um retorno, muitas dessas histórias já foram 'para gente grande', antes de virarem contos da carrochinha. Como se vê, elas se transformam!"

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Fradique Mendes contra a ansiedade

Todos aqueles que, no longo processo de aprendizado de uma nova língua, angustiam-se com as dificuldades de pronúncia, acima dos outros problemas naturais de todo idioma, seja o alemão, o inglês, o francês, o russo, o japonês... enfim, todos aqueles que aprendem ou aprenderam algum tipo de língua (pensando bem, o verbo só pode ser conjugado no presente) devem apreciar pra caramba este trecho de A Correspondência de Fradique Mendes, gostoso livro ao melhor e mais maduro estilo de Eça de Queirós:

"Porque as línguas, minha boa amiga, são apenas instrumentos do saber - como instrumentos de lavoura. Consumir energia e vida na aprendizagem de as pronunciar tão genuína e puramente, que pareça que se nasceu dentro de cada uma delas, e que, por meio de cada uma, se pediu o primeiro pão e água da vida - é fazer como o lavrador, que em vez de se contentar, para cavar a terra, com um ferro simples encabado num pau simples, se aplicasse, durante os meses em que a horta tem de ser trabalhada, a embutir emblemas no ferro e esculpir flores e folhagens ao comprido do pau. Com um hortelão assim, tão miudamente ocupado em alindar e requintar a enxada, como estariam agora, minha senhora, os seus pomares da Touraine?"

Na mesma fictícia carta, Fradique Mendes, personagem de Eça, argumenta que querer dominar a pronúncia de uma língua é um ato anti-nacional e anti-identitário. O trecho é cômico, claro, e obedece às dinâmicas internas de caracterização da personagem. Ou seja, não deve ser levado ao pé da letra. Mas não deixa de ter um fim terapêutico para aqueles que se angustiam com essa difícil parte do processo ainda mais difícil de se aprender uma língua.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Por um lugar para Liniers na Academia

Com muito orgulho divulgo aqui o novíssimo número (o quarto!) dos Cadernos de Não-Ficção, publicação de ensaios sobre literatura da editora porto-alegrense Não Editora. Esta edição trata da Argentina. Tive a oportunidade de prestar a minha colaboração, com um ensaio sobre as entrevistas em quadrinhos do Liniers. Pode folhear e ler à vontade aí embaixo. O meu texto começa na página 62 e vai até a 69.

Importante: se clicar em cima com o mouse, você consegue ler em tela cheia. Bem mais confortável para os olhos!

sábado, 10 de março de 2012

Senhor Cash

Ainda aproveitando a onda de comemorações aos 80 anos da data de nascimento de Johnny Cash, celebrados no último dia 26 de fevereiro, tive a oportunidade de responder a uma gostosa entrevista sobre a tradução de Johnny Cash - uma biografia, do quadrinista alemão Reinhard Kleist. As perguntas são do blog Senhor Cash, hiper-especializado na obra do músico. Segue abaixo!

***

"No livro, vemos um Johnny Cash mais sombrio. Foi essa mesma a intenção de Kleist?

Sim, foi mesmo, e essa intenção já se manifesta no fato de o livro ser em preto e branco. O Johnny Cash de Kleist é uma espécie de Cavaleiro das Trevas da música country, o que de certa forma demarca a inflluência da linguagem dos quadrinhos na obra. A versão cinematográfica Johnny & June, apesar de bastante diferente, também evidencia a influência de um gênero e de uma linguagem no resultado estético. Essas diferentes versões, no entanto, não significam de modo algum falhas de uma ou outra obra. O mesmo homem pode ser lido sob diferentes luzes. É questão de interpretação. Isso tudo condiz com a declaração feita por uma das personagens da HQ, na página 92: "De vez em quando você tem de ler apenas nas entrelinhas. Então você tem as verdadeiras histórias. No fim, são as histórias que permanecem, não os fatos. E histórias precisam ser contadas." O Johnny Cash de Kleist é isso, um homem iluminado pela luz de uma lanterna na floresta escura.

Qual a importância das músicas (letras) no livro, já que algumas ganharam aspecto de mini-capítulos?

É difícil fazer a biografia de um músico, tanto em quadrinhos quanto em prosa. Por quê? Porque esses são meios visuais, o que faz perder o principal elemento de um personagem como esse: a sua arte. Não que isso inviabilize um trabalho, pois há alternativas. Kleist, por exemplo, usa as músicas como interrupções para dar ritmo à leitura - como as pausas em uma música! Ele inclusive 'desenha' essas músicas, da mesma forma que Crumb faz em
Blues. Isso só é possível, claro, porque as canções de Johnny Cash são de natureza narrativa. Elas contam uma história e, quando a ouvimos, imaginamos essa história. São, portanto, músicas visuais!

Por outro lado, essa estrutura utilizada por Kleist tem outra função: ela insere as obras dentro do contexto da vida do autor contada durante todo o livro. Porque os grandes artistas - os de reconhecimento duradouro - não criam apenas por objetivos comerciais. Eles 'sentem' o que criam, e essa sua obra tem então origem nos acontecimentos à sua volta. Assim é a história de Johnny Cash e assim conseguiu Kleist reproduzir essa história na forma de quadrinhos.



Por que o livro ganhou tantos prêmio pelo mundo todo?

Premiações às vezes dizem respeito mais a questões extraliterárias (extraquadrinísticas também) do que à qualidade da obra. Mas há casos raros em que mérito e reconhecimento do meio coincidem. É o caso de
Cash - uma biografia. Vejo nessa obra diversos motivos para essa carreira premiada. Um dos principais são técnicos: a qualidade do desenho, as dificuldades de narrar em preto e branco, o layout das páginas... Outros são de natureza narrativa: o modo como Kleist compôs a obra, a escolha do narrador, a estrutura dos capítulos etc. Mas, no fundo, no fundo, o que importa mesmo é o conjunto da obra composto pelo mosaico de todas essas partes. O que importa mesmo é a interpretação que Kleist nos dá de Johnny Cash. Sem romantismo, sem iconolatria. Apenas o homem e o que ele conseguiu com sua arte, sem esquecer aí o que isso lhe custou. O ônus e o bônus. Como na vida de todos nós, pessoas reais.

Na sua opinião, o que diferencia Cash de outro ídolos da música americana?

Acho que a sua versatilidade é um elemento importante que o diferencia. Johnny Cash, que começou com um ídolo comum da música country, tornou-se no fim da vida um artista contracultural. E em todas as fases da sua carreira há músicas emblemáticas que permanecem idolatradas até hoje. Ele também é bastante admirado por sua audácia e coragem - como por ter tocado para os prisioneiros na prisão Folsom, por exemplo - e pela sua perseverança ante os obstáculos da vida - a morte do irmão, as crises com as drogas, o relacionamento com June. Em suma, Johnny Cash sintetiza a unificação entre artista e obra, e aqueles que o admiram de verdade o admiram como homem e como músico.
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sobre tradução

Estava eu hoje respondendo a perguntas sobre a tradução de Johnny Cash - uma biografia (8Inverso, 2009), quando me dei conta de que não divulguei aqui uma outra entrevista que concedi no ano passado, para o site da editora. Segue abaixo! As perguntas são do jornalista Vitor Diel. Algumas respostas estão desatualizadas, pois a entrevista foi feita em junho de 2011 e de lá para cá muita coisa mudou. Mas são só os dados que mudaram, o conteúdo mais importante parmanece atual.

***

1) Primeiro, resuma um pouco da tua biografia e currículo: idade, onde nasceste, formação, trabalhos que tens feito, cursos que ministras, línguas nas quais tem fluência, etc.

Eu nasci em Porto Alegre, no dia 17 de novembro de 1985, portanto tenho 25 anos. Aos 15 me mudei para Santa Maria, onde terminei o Ensino Médio e fiz a faculdade de Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, na UFSM. Logo após concluído o curso, voltei para Porto Alegre para fazer a Oficina de Criação Literária do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil. Desde então, trabalho como jornalista cultural freelance, colaborando com veículos como a Revista da Cultura, a Continuum (do Itaú Cultural) e a espanhola Zona de Obras. Também sou colaborador do Goethe-Institut Porto Alegre, em projetos ligados a quadrinhos, e do Itaú Cultural. E estou desenvolvendo uma reportagem em quadrinhos sobre as favelas cariocas para o site holandês Cartoon Movement. Além do português, falo inglês e alemão, e estou aprendendo japonês.

2) De quem partiu a iniciativa de traduzir o Johnny Cash? Já conhecias o trabalho do Kleist?


Entre 2008 e 2009, morei na Alemanha por oito meses, trabalhando como Aupair. Foi lá que tive contato com a maioria das obras de quadrinhos que tenho me esforçado para trazer para o Brasil, como foi o exemplo de Cash, do Reinhard Kleist. Essa história eu contei no posfácio da edição brasileira, da 8Inverso. Em Berlim, eu visitei o ateliê de um outro quadrinista que eu admiro, o Mawil. Pois ele dividia na época o espaço com mais três quadrinistas, entre eles o Kleist. Foi aí que conheci o trabalho dele. De volta ao Brasil, em meados de 2009, o Robertson Frizero (que foi meu colega na oficina de criação literária do Assis Brasil) me pediu sugestões de projetos para a editora da qual ele recém virara sócio, a 8Inverso. Eu sugeri a tradução de Cash. Aí ocorreu uma coincidência que ajudou bastante nessa decisão: eu já estava organizando um evento com o Goethe-Institut Porto Alegre que traria o Kleist para o Brasil no final do mesmo ano. A editora aprovou a ideia, e então corremos para fazer a tradução a tempo de lançar com a presença do autor. Eu me sinto orgulhoso por ter trazido a obra do Kleist para o Brasil, mas também sei que isso só ocorreu porque houve uma editora com visão suficiente para topar a empreitada e ver aí uma grande oportunidade. Ainda hoje há vários autores alemães consagrados esperando por tradução. Não é toda editora que tem esse tino para negócio.

3) Uma graphic novel biográfica, como é o caso de Johnny Cash – uma biografia, aproxima-se mais da literatura ou do jornalismo?

Eu diria: aproxima-se mais do Jornalismo Literário. A reportagem feita em profundidade, no meu ver, tem muita semelhança com as melhores obras literárias, porque acaba não apenas informando, mas também transformando. Elas nos fazem pensar. O Jornalismo Literário bem feito também tem esse poder. Claro que aí há uma discussão sobre uma possível fronteira entre ficção e não-ficção, o que é bem questionável até certo ponto. A respeito disso, gosto muito de citar o que um personagem diz na página 94 de Cash: "De vez em quando você tem de ler apenas nas entrelinhas. Então você tem as verdadeiras histórias. No fim, são as histórias que permanecem, não os fatos. E histórias precisam ser contadas." Acho que o Jornalismo Literário ou mesmo as biografias em quadrinhos seguem exatamente esse preceito: se bem feitos, contam uma história que nos ensina algo. E essa história surge de uma apuração minuciosa, sem se ater apenas às informações objetivas.

4) A edição original do livro foi publicada na Alemanha em 2006, próximo ao lançamento do filme americano “Johnny & June”, também sobre a vida de Johnny Cash. Que diferenças existem entre as histórias apresentadas nas duas obras?

Pois isso foi uma coincidência. O Kleist não sabia que estava sendo feito o filme. Na minha visão, a versão cinematográfica da vida de Johnny Cash é mais romanceada, focada mesmo na relação dele com a June. Uma história de amor, praticamente. Já o quadrinho de Kleist tem uma atmosfera mais sombria, com bastante peso para o efeito das drogas na vida do Cash. Acho que por isso o trabalho do Kleist corresponde melhor ao que foi à vida de Johnny Cash. Se você acompanha a trajetória completa de Cash - incluindo aí a relação com a June, a carreira musical, sua infância e o uso das drogas -, você compreende (eu diria, você "sente") muito melhor o clipe "Hurt" (veja abaixo), que é praticamente um apanhado de tudo o que a vida de Cash significou. Com o filme não. Com o filme você tem uma visão mais positiva e menos realista da mesma história.



5) Existem limitações narrativas impostas pelo gênero graphic novel? Qualquer história pode ser transposta e adaptada aos quadrinhos?

Essa é uma ótima pergunta. Se formos pensar que o quadrinho é uma mídia visual, pareceria loucura contar aí a trajetória de um músico. Por isso o trabalho do Kleist merece tantos elogios. Por outro lado, acredito que há histórias mais apropriadas para a linguagem dos quadrinhos. Trabalho com Jornalismo em Quadrinhos e tenho pesquisado bastante sobre que vantagens há em se fazer uma reportagem usando essa linguagem. Afinal, há pautas mais adequadas para televisão, outras para impresso, outras para rádio. No meu ver, o quadrinho é muito bom para histórias com bastante apelo visual e que exigem reconstituição de cenas e construção de atmosferas. Nesse sentido, a sarjeta (o espaço entre um quadro e outro) pode ser um recurso excelente para tornar o leitor o responsável pela criação do clima da história, ou seja, para jogar o leitor dentro da história. É uma arte difícil de dominar, mas que o Kleist faz muito bem.

6) Que sugestões darias a jovens estudantes interessados no trabalho de tradução literária?

O importante da tradução literária é dominar a língua de chegada - o português, no nosso caso. Porque o alemão, por exemplo, é uma língua de difícil domínio. É uma língua que esconde muitas sutilezas de significado, mesmo para quem já convive há anos com o idioma, como é o meu caso. Para traduzir Cash, eu contei com a ajuda do próprio autor e de um amigo alemão que fala português. Eles foram cruciais para eu entender o signifcado preciso de algumas frases, principalmente no que diz respeito ao subtexto. A minha responsabilidade portanto foi encontrar a melhor forma de traduzir isso na minha língua, fazer o trabalho de Kleist se comunicar de maneira eficiente com o leitor brasileiro. Por isso acho que o importante mesmo é dominar os recursos da língua de chegada. Já com a língua de partida é necessário ter uma relação longa e profunda, claro, mas dificilmente se conseguirá dominá-la. É aí que vêm em nosso auxílio os dicionários e outras fontes.

7) Como é a rotina e a prática do trabalho de tradução de livros?

É difícil responder a isso. Cash foi a minha primeira e única tradução até agora. Para esse trabalho, tive um desafio especial: tive que traduzir em três semanas, para dar tempo de lançar o livro com a presença do autor. Isso ocorreu porque comecei a conversar com o Robertson em julho, se não me engano. E em setembro a 8Inverso estava fechando o contrato com a Carlsen, que detém os direitos da obra. Antes disso eu não podia traduzir. Foi uma correria, mas deu tudo certo. Enquanto o contrato não ficava pronto, eu me preparei assistindo a documentários sobre a vida de Johnny Cash, de modo que quando eu comecei o assunto não era novo para mim. Agora vou fazer minha segunda tradução e o método será certamente outro. Para começar, não é um trabalho biográfico, então esse tempo de pesquisa diminui um pouco. Por outro lado, também terei mais tempo para a tradução, o que permitirá um preciosismo e uma reflexão ainda maior. O que, claro, já houve durante a tradução de Cash. Acho no entanto que com a correria eu não pude curtir tanto o trabalho: era acordar de manhã e trabalhar em três turnos, quase sem pausa. Nesse novo trabalho quero aproveitar mais o processo, me divertir com ele. Ainda mais que se trata de uma obra que eu gosto muito.

8) Como proceder para acompanhar teu trabalho ou entrar em contato? Tens blog, utilizas as redes sociais?

Eu tenho um site, onde está publicado meu portfólio. O endereço é este: www.augustopaim.com.br. Ali é possível acessar meu perfil no Facebook e no Twitter (@augustoteles). Também tenho dois blogues: o www.cabruuum.blogspot.com, onde desde 2005 escrevo sobre quadrinhos; e o www.augustfest.blogspot.com, que começou como um espaço para relatar as minhas experiências de intercambista e onde hoje divulgo meus mais recentes trabalhos, bem como publico textos literários.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Uma pauta do barulho

O caminho que leva até uma pauta ser aprovada... Muitas vezes, é a própria via-crúcis.

Acho que foi lá por 2006, no último ano de faculdade em Santa Maria/RS, quando ouvi falar pela primeira vez em Música Eletroacústica, num encontro de um grupo de pesquisa que trouxe um convidado para falar sobre o tema. Na hora, já pensei: "que ótima pauta!" Depois disso, veio a formatura, o primeiro ano de mudança para Porto Alegre ralando em freela esparsos, os oito meses na Alemanha cuidando de crianças e o retorno à vida de freela em Porto Alegre. Se eu colocar no campo de busca do meu email a expressão "Música Eletroacústica", vão aparecer inúmeros emails que mandei para também inúmeros veículos oferecendo o tema como pauta em todo esse período. Na maioria das vezes, recebia um "não", o que já era melhor que não receber resposta.

Em outubro do ano passado, o tema voltou novamente à minha cabeça porque fiquei sabendo que seria inaugurado um espaço de Música Eletroacústica na UFRGS. Estive lá para conferir. Novamente, senti aquela empolgação que havia me contagiado ainda na faculdade. Sem muita esperança, comentei sobre esse evento com o editor da Revista da Cultura. Depois disso, deixei pra lá. Então, no final de dezembro, quando o mundo costuma parar para celebrações de Natal e Ano Novo, eis que recebo o glorioso email tendo como assunto as palavras que todo freelancer quer ler: "pauta aprovada".

O resultado foi publicado esta semana:


"Um maestro do barulho

Aos 80 anos, Frederico Richter é um dos pioneiros no Brasil da revolucionária Música Eletroacústica

por Augusto Paim

Na terça-feira, 4 de outubro de 2011, o pequeno João Vítor, de 8 anos, saiu mais cedo de casa em direção à escola. A aula começaria à tarde, mas às 12h30 ele já estava na Sala dos Sons, no segundo andar do prédio da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Sentou-se em uma cadeira e, a não ser pelas perninhas balançando, manteve-se em silêncio tranquilo pelos cerca de 50 minutos que durou a apresentação. A primeira música era do seu avô, que ficou de pé para receber os aplausos do público. Seguiram-se outras três. Uma delas imitava o barulho de animais imaginários, com ruídos de insetos metálicos e urros aquosos. O som era estranho e vinha de todas as direções – como se atravessasse seu corpo. Assustador. Mas não para o menino, que considerava tudo aquilo familiar. [...]"

[continue lendo].

Como complemento dessa reportagem, foi publicada no Cultura News uma entrevista, que eu fiz e traduzi, com um especialista alemão em Música Eletroacústica. Leia aqui.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Novas editoras de Porto Alegre - material extra

Em função de falta de espaço, a reportagem que foi publicada na Revista da Cultura (como mencionado no post anterior) teve seu tamanho reduzido. Com o fim de valorizar o depoimento dos entrevistados (em especial pela ótima discussão feita entre eles na busca de entender a origem do fenômeno), publico aqui o trecho que ficou faltando. São excelentes reflexões!

"Antes da Dublinense e da Não-Editora, surgiu em 2001 em Porto Alegre a Livros do Mal, uma editora independente que, apesar de hoje não mais existir, tornou-se um farol para as demais. Foi fundada por Daniel Galera, Guilherme Pilla e Daniel Pellizzari. 'Não fomos pioneiros em nada', diz Galera, 'mas de certa forma fomos percussores, junto com a Ciência do Acidente [editora de Joca Reiners Terron], de um movimento de editoras independentes que tentaram, a partir da década de 00, abrir mais espaço a autores tidos como ‘malditos’.' Ele explica o que os motivou, contando que 'havia a sensação de que o cenário da literatura nacional estava um pouco engessado e a percepção de que o sopro renovador estava sendo gestado em grande parte nos fanzines, sites, revistas eletrônicas e blogs, um espaço que na época ainda era desdenhado pelas grandes editoras, pela publicações culturais e pela crítica.'

Mais leitores? Ou mais escritores?

'Não acho que atualmente surjam em Porto Alegre mais editoras do que no passado, ao menos nas últimas décadas', diz Montenegro, da Arquipélago, trazendo o exemplo da L&PM, que surgiu bem pequena na década de 1970 e hoje é uma grande editora. Segundo ele, no Rio Grande do Sul há 'um mercado regional mais disposto a consumir seus próprios escritores'. Haveria então mais leitores? Ele responde: 'é mais provável que o aumento do número de editoras, se for real, reflita um aumento no número de escritores que querem ser publicados'.

Essa foi uma motivação importante para o surgimento da 8Inverso. Cássio Pantaleoni sofria com a dificuldade de publicar seus livros. 'Muitos colegas escritores costumam se queixar do tratamento oportunista dos editores, distribuidores, livreiros e outros integrantes do mercado editorial', conta ele. Pela 8Inverso, saiu seu livro Histórias para quem gosta de contar histórias. Uma exceção, já que Pantaleoni evita misturar as funções de autor e editor.

Machado, da Não, observa que o maior número de editoras faz aumentar a quantidade de autores publicados: 'Esse dado, sim, poderia ser estudado, especialmente numa cidade como a capital gaúcha, onde existe uma grande quantidade de oficinas literárias e pessoas produzindo a literatura.' De fato, em Porto Alegre acontece há mais de 25 anos a célebre Oficina de Criação Literária do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, além do Mestrado em Escrita Criativa da PUC RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

Lu Thomé, sócia da Não Editora, questiona: 'não sei se esse aumento é algo específico do mercado editorial, ou de toda a cultura em geral. Mais pessoas estudam literatura, e escrevem livros, e os livros são editados. Mais pessoas montam bandas de rock. Mais pessoas viram fotógrafos ou conseguem como artistas plásticos expor seus trabalhos.'

Alcázar, da Argonautas, diz que há, sim, várias novas editoras surgindo em Porto Alegre ultimamente, mas não se trata de um fenômeno local. E ele dá explicações para esse boom no mercado editorial: 'acho que o aumento da produção literária e a relativa facilidade para se abrir uma empresa sejam os fatores decisivos.'


Mais fácil? Ou mais difícil?

'Hoje em dia, se você tiver um computador, os programas necessários e o conhecimento, você faz um livro na sala de sua casa', afirma Alcázar. É também o que aponta Faraon: 'hoje a gente pode trabalhar com um capista que vive na Europa, por exemplo, um designer que está no Nordeste do país, fazer a promoção do livro em grande parte através de ações online em todo Brasil e estando aqui no RS compor um produto com um time dos melhores profissionais disponíveis.'

Seria então mais fácil ser editor hoje em dia? Tito Montenegro diz que não: 'A edição, na minha concepção, é separar o que é bom do que não é.' E completa: 'Com uma quantidade cada vez maior de candidatos a autor, separar o joio do trigo está cada vez mais difícil. O resultado é que publica-se muito joio.' É também o que pensa Machado: 'a tecnologia não facilita em nada a tarefa de descobrir um original, fazer a sua preparação e decidir como esse livro será lançado no mercado.'

Faraon ressalta o quanto o poder de investimento ainda é um fator crucial: 'neste sentido é que nós, os pequenos, por mais criativos que sejamos, ainda sentimos muito.' É também o que diz Pantaleoni, que tem uma carreira consolidada na área da Tecnologia da Informação, onde aprendeu bastante sobre gestão de empresas. 'Mas confesso que o negócio editorial impõe desafios bastante distintos', diz. E o que essa experiência de editor altera na vida de um escritor? Pantaleoni finaliza: 'hoje, quando entro em uma livraria ou converso com um distribuidor, compreendo melhor as chances de um título. O ‘romantismo’ com o mercado editorial, em grande medida, cedeu espaço para uma visão mais prática.' O que não o fez mudar a postura em relação ao tratamento dado ao autor: 'Na verdade, está bem mais claro para mim a responsabilidade que temos nas mãos.'"