Mas a ideia deste blog não é só divulgar links, como também postar material extra, bastidores de reportagens etc. Aliás, mantenho este espaço justamente para casos como o de hoje.
Diana Corso, autora de Fadas no Divã, foi uma das entrevistadas da matéria. No texto que foi ao ar, recém lincado aí em cima, aparecem algumas poucas aspas dela, por motivos de economia de caracteres. O depoimento da Diana, porém, é bem mais completo do que isso. Perguntei-lhe sobre o poder fabular de readaptações contemporâneas para contos de fadas (como Shrek), e a reposta dela, por ser instigante demais para ficar escondida na minha caixa de entrada de emails, vem copiada abaixo:
"Os contos de fadas são a prova que em termos de referências ficcionais algumas coisas se perdem, mas muitas sobrevivem justamente porque se transformam. O imaginário é plástico como os sonhos: possui um acervo de referências, mas as utiliza livremente para montar enredos originais ou colocados a serviço das necessidades da mente do sonhador. Contos de fadas não têm um cânone, os que conhecemos já constituem sucessivas re-leituras, entre as quais as de Perrault e dos irmãos Grimm tornaram-se referências clássicas, mas também temos as importantes versões de Disney, assim como as inúmeras histórias correlatas ou simples variações da mesma trama, presentes no acervo de contos de diferentes culturas.
A Bela e a Fera, por exemplo, é uma típica história de noivo-animal, há muitas delas, mas que costuma ser tomada a partir da versão escrita por duas autoras francesas do séc XVIII; tem no filme de Cocteau, de 1946, outra importante fonte do imaginário associado a essa trama; além de que recentemente os Estúdios Disney transformaram a jovem, que era simplesmente boa, numa intelectual. As mudanças dessa heroína foram refletindo as das próprias mulheres, nada surpreende então que surja uma Branca de Neve que luta com seus punhos ou que entra em franca disputa de beleza com uma madrasta que se recusa a envelhecer! Shrek, o ogro aparentemente ranzinza, além de brincar livremente com todo esse acervo de contos, como o fazem as crianças na sua atividade lúdica, revelou-se principalmente um humorista. Ele faz graça com os elementos do passado ficcional, mas também com o presente, com a realidade do amor e da família contemporâneos. Além dessas mudanças, que customizam os personagens ao gosto da tendência narrativa de cada época, há o fato de que os contos de fadas foram sendo cada vez mais adaptados ao uso das crianças e cerceados para esse fim. Saídos da narrativa oral, das veladas dos trabalhadores cansados e dos contadores de histórias para o quarto das crianças, onde passaram alguns séculos, pelo jeito eles estão se voltando também para os grandes. Os jovens e adultos estão reivindicando a sobrevivência de seus antigos heróis para acompanhar os que já cresceram em sua jornada pela vida. Isso é um retorno, muitas dessas histórias já foram 'para gente grande', antes de virarem contos da carrochinha. Como se vê, elas se transformam!"
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