Quarta-passada, eu estava sapiando (leia-se "estar sem fazer nada") durante meu estágio no jornal Meppener Tagespost. Resolvi abrir as páginas do tablóide, tentar decifrar aquelas palavras escritas numa língua para não ser decifrada. Dei de cara com um texto que, traduzindo, começa assim:
"Como se parecem as cores de verdade?
3000 alemães não sabem.
Nils têm cabelos castanhos, olhos castanhos, veste um jeans azul e uma camiseta azul claro. Apesar disso, o menino de 5 anos olha no espelho e enxerga a si mesmo cinza. (...)"
O texto é sobre uma doença cromática. O menino Nils a tem.
Eu fiquei impressionado com o texto. Em duas linhas, o autor tocou numa das principais questões que envolvem o enxergar tudo em preto-e-branco: a auto-imagem. Um texto escrito com sensibilidade, com cuidado, um texto difícil de fazer e que passa a sensação de vir fácil.
Eu passei dois dias tentando descobrir quem era o autor, pois a assinatura era da Deutsche Press Agentur (Agência Alemã de Notícias). Hoje sei: ele se chama Marco Hadem e trabalha em Düsseldorf. Ele talvez não saiba, mas fez jornalismo literário com essa matéria, um estilo jornalístico que procura se aprofundar e apurar muito mais do que apenas dados da realidade. Afinal, realidade são também nossos sentimentos, nossas percepções. E escrever um texto contando isso com propriedade, sem cair no sensacionalismo ou no pieguismo, é coisa para poucos.
Coisa para um cara que nem o Marcos Hadem. Parabéns a ele!
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