Acaba de ser publicada no site da revista Continuum minha mais recente reportagem, "Casa em obras". Veja um pedaço:
"Ao transformar suas residências em espaços de produção e exposição, artistas dão exemplo de como diminuir a distância entre vida e arte.
Na última edição da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2009, uma obra se destacava no número 400 da Rua da Praia. Localizada fora dos pavilhões onde ocorre a maior parte do evento, a intervenção do artista plástico paulista Henrique Oliveira transformou um prédio público abandonado numa 'casa-monstro': uma massa disforme, saindo por portas e janelas, impedia a entrada de qualquer pessoa, e dava ainda a sensação de que a construção explodiria a qualquer momento."
Para ler o resto, clique aqui.
Se você já leu e quiser saber mais sobre os bastidores da produção desta reportagem, siga lendo este post.
Essa pauta viveu um processo muito interessante desde o seu início. A revista Continuum, você sabe, é a revista do Itaú Cultural. Trata-se de uma edição bimestral, com temas variando a cada novo número. A revista de abril/maio é em homenagem ao artista plástico Hélio Oiticica. Inicialmente, eu propus uma reportagem falando sobre como trazer a arte para dentro de casa, mais especificando trazendo exemplos que poderiam ser feitos por qualquer pessoa (organizar cineclubes em casa, por exemplo, dentre inúmeras outras opções). Esse tema da arte no cotidiano é uma leitura da obra do Oiticica. A pauta foi aprovada.
Tudo indicava, porém, que se tratava de uma reportagem a ser composta muito mais por ideias criativas do que apuração. Isso me deixou um pouco desconfortável. Por isso me preocupei também em descobrir artistas que tivessem experiências bacanas produzindo obras dentro de casa. Nessa linha de investigação, descobri excelentes histórias: uma artista paulista recortou pedaços da parede de sua própria casa, usando seu corpo de molde; um artista alemão fez intervenções durante anos em sua própria casa, sem parar; uma artista gaúcha construiu uma casa-ateliê-pousada cheia de mosaicos no pequeno município de Morro Reuter; e por aí vai. Durante as entrevistas ainda surgiram dois entrevistados que questionaram a ideia original da pauta, ou seja, a ideia de que qualquer pessoa - artista ou não - poderia transformar a sua casa num espaço artístico. Como eu adoro opiniões divergentes, achei que o texto final da matéria deveria incluir isso.
A primeira versão que escrevi falava sobre essas dicas para qualquer pessoa "culturalizar" sua casa, além de trazer exemplos de artistas que levaram isso ao extremo e também mostrar a opinião de artistas com uma visão crítica sobre o tema. Foi difícil montar tudo isso, mas me ajudou o fato de, no fim, uma das entrevistadas com espírito crítico ter me mandado um email sincero revendo sua opinião sobre o assunto, num ato expontâneo e imprevisto. Esse email ficou excelente para encerrar a reportagem.
Na edição da matéria, porém, ficou claro que a parte que falava das dicas para o "cidadão comum" destoava do resto, e que o que interessava mais era mesmo o exemplo dos artistas. A primeira parte foi, em consequência disso, cortada, e a reportagem praticamente mudou de pauta: virou uma reportagem sobre artistas que tem a casa como objeto e tema artístico. Nada de dicas para o cidadão comum, portanto.
Resumindo: essa pauta foi exemplar para mim, no sentido de ter começado com um tema difícil de desenvolver, mas cuja apuração secundária acabou crescendo tanto que se sobressaiu e eliminou o resto. Além disso, ainda houve a visão crítica dos entrevistados sobre o tema da pauta, e uma brusca mudança de opinião de uma entrevistada.
Já pensou juntar tudo isso numa única reportagem? Espero que o resultado tenha sido um texto gostoso de ler. E, principalmente, inspirador!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário