Outro dia, recebi o seguinte email, comentando a reportagem sobre artistas que trasformaram a própria casa em obra de arte:
"Meu nome é Gustavo Ferro, tenho 21 anos, estudo artes visuais no Centro Universitário Belas Artes em São Paulo. Antes, morava em Santos e mudar-me para cá, por conta dos estudos, me abriu diversas possibilidades do olhar. Os lugares mudam os pensamentos e vice versa. De alguma forma é o que sinto que acontece na relação entre minha casa e eu. Me abriga, mais que meu corpo... é corpo de minhas ideias. Existe embate aqui dentro. E são grandes, intensos - internos e se exteriorizam, de alguma forma que ganha corpo que me envolve - casa.
Achei incrível a ultima parte do texto, principalmente depois de ler o depoimento de como surgiu a matéria. Vem das relações e incertezas (de certa forma), aquilo que muda. Me senti tremendamente insatisfeito por não ter ido a Bienal do Mercosul depois de tua descrição do trabalho do Henrique de Oliveira. Te digo que não me cansaria de ler uma matéria mais longa e aprofundada sobre o tema. Imaginei agora uma proposição de colocar artistas que pensam a moradia como lugar da obra em diálogo. Agora, algo que penso ser essencial é o contato com este espaço proposto. Não somente a descrição.
Faço parte de um coletivo, chame-se Beco da Arte. Começou na minha casa, com uma proposta de espaço expositivo, onde convidei alguns conhecidos para expor. Depois disso a rotina de fazer exposições em casa se fez semestralmente. Após um ano, um vizinho (hoje amigo) que se interessou pela proposta, ofereceu o espaço do porão da casa dele para nos apropriarmos. Houve uma exposição do dito porão todo detonado e marcado, por histórias, tempo, mofo, traças. Bolamos um edital e divulgamos principalmente na internet. Recebemos 40 inscrições (! foi uma surpresa) e nós mesmos selecionamos e produzimos a exposição (na época eram 4 integrantes). Depois desta exposição reformamos o porão, ficou tipo: branco. Houveram outras exposições no espaço e continua acontecendo até hoje. O próximo movimento que vai rolar no porão será dia 30 de abril, lançamento da revista Tatui número 8. Que vem com um texto do Beco dentro (impresso) como uma proposição 'artística'. Você pode ver o texto aqui.
Aqui você pode ver um video feito por um integrante do coletivo que documenta falas do proprietário do espaço cedido.
Me passa em propor a casa como obra. Mas é algo que por enquanto não assumi explicitamente (digo que por exemplo não inscreveria esta proposição em um salão de arte ou coisa assim), mas lincando com Hélio... é um dos aspectos onde enxergo a curta distância entre arte e vida, quotidiana (vida) e banal (arte)."
O email do Gustavo me deixou muito contente. É isso que eu procuro com cada reportagem, que elas continuem sendo escritas mesmo depois de prontas. Que reverberem, promovam discussão e reflexão.
Aqui vão os blogs do Gustavo, para quem quiser entrar em contato com ele: Projeto Beco da Arte e Ocupação.
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