sábado, 23 de abril de 2011

Cinco dias em Assunção: dia 4

Depois do primeiro e segundo dias, e depois do terceiro, vem aí o quarto dia da reportagem Cinco dias em Assunção, sobre a cultura e a arte do Paraguai.

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Miércoles, 23 de Febrero de 2011

8h da manhã. O Mercado Público Nº 4 é o recomendado pela população local para quem quer fazer o desjejum. A forte chuva que cai em Assunção cai também dentro do mercado. Do lado de fora, os buracos das calçadas alagam, a rua vira uma corredeira. Para circular pela cidade, tem-se fatalmente que molhar os pés

São 16h. A chuva diminuiu, mas até mesmo no bairro San Jorge, de ricas casas e vizinhança tranquila, há poças a serem transpostas. É aí que está localizado o Centro de Artes Visuais Museo Del Barro. Criado em 1979, o centro é dividido em três espaços: o Museu de Arte Indígena, que expõe peças das diferentes linhagens de índios integrantes da população do país; o Museu do Barro, voltado para arte popular e arte sacra; e o Museu Paraguaio de Arte Contemporânea, que destaca nomes como Osvaldo Salerno, Carlos Colombino e Olga Blinder. Colombino, aliás, além de ser um dos fundadores do museu, tornou-se internacionalmente reconhecido por ter criado uma técnica chamada “Xilopintura” – em vez de a madeira talhada servir como molde, a pintura é feita na própria madeira. Já Osvaldo Salerno é hoje diretor do centro, cujo prédio também é dividido com a Fundação Migliorisi, reponsável por expor a obra de Ricardo Migliorisi, outro artista paraguaio contemporâneo de renome internacional.

18h30, entardecer. No Teatro Municipal, Angel Franco fala um pouco sobre os principais nomes do teatro paraguaio. Duas escolas são as responsáveis por formar diferentes gerações de atores e dramaturgos ao longo dos anos: El Ateneo Paraguayo e a Escola Municipal de Artes Cênicas. Uma das atrizes mais importantes do país é María Elena Sachero, oriunda do Ateneu. Já na Escola Municipal, destacam-se os diretores Roque Centurión Miranda e Manoela Argüello. Outro diretor bastante venerado no Paraguai é Julio Correa, criador do teatro em língua guarani.

Franco tem 55 anos de idade e passou os últimos 14 deles trabalhando no Teatro Municipal. Até hoje, a peça que mais lhe emocionou foi uma adaptação, feita pelo diretor Agustín Núñez nos anos 1990 (logo após o fim da ditadura), da obra “Yo El Supremo”, de Augusto Roa Bastos. “Foi um aposta espetacular, tirou-se as cortinas, tirou-se o cenário”, conta Franco. Toda as cenas ocorreram na biblioteca do ditador José Gaspar Rodríguez de Francia, o “Supremo” do livro de Bastos.

São 21h. No palco do Teatro Municipal, a carismática cantora Lizza Bogado faz o público vibrar. Interage com a plateia, põe-na para cantar polcas tradicionais do país, desce do palco e caminha entre as cadeiras. Ela é um ícone. Na apresentação de hoje, participa também um grupo de dançarinas. Elas dançam equilibrando garrafas e, depois, segurando um vaso. Jessica Fernandes, a coreógrafa, explica que essas são danças folclóricas do Paraguai. “Normalmente a dança é feita com uma só garrafa e o objetivo é mostrar equilibro e destreza”, conta ela. Em apresentações de gala, no entanto, pode-se usar mais garrafas.

Perto da meia noite. Em frente ao Panteón de los Héroes, o Lido Bar serve uma deliciosa empanada de jamón y queso, dentre outros recheios. Longe dali, a vida noturna de Assunção concentra-se na região conhecida como Carmelitas. São diversos bares, muitos deles franquias de redes internacionais, onde se pode escutar música em inglês e beber cerveja importada. Lá, nada é original. Nada é paraguaio.


[continua]

2 comentários:

Bloguespañol - UNIPAMPA disse...

Oi, Augusto!
De volta a espiar o Augustfest nesse feriadão, deparo-me novamente com a qualidade do teu texto. Estou adorando ler sobre os 5 dias em Assunção!Abração!

Estevan disse...

Americanalização. Isso responde as tentatovas pacificadoras de encontrar conforto em uma "aldeia global"... e outras terminações de muita acepcia, que nos servem para não sabermos quem somos.