quarta-feira, 26 de setembro de 2012
PRESS RELEASE
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Um dia bonito na Alemanha
Assim se passaram algumas horas. Depois, quando eu já não tinha mais nada para pintar, as crianças estavam de saco cheio de ver filme e a sala continuava intransitável, fui passear com os meninos. A idéia era jogar bola num campo aqui perto. O dia estava realmente perfeito para isso. Foi uma decisão correta levar a tiracolo minha máquina fotográfica, pois as fotos ficaram muito bonitas.
Laura, Betinho e Augusto em processo de alemanização
Nesse dia e nos próximos, eu e o Betinho ajudamos com a última parte da mudança da casa da família com quem estou morando. Ele conheceu o Saboor e o Benedito, os piás que cuido.
Depois, na quarta-feira véspera de Ano Novo, chegou a Laura.
De modo que passamos alguns dias assim, com três brasileiros na casa. A Laura estudando alemão, o Betinho sem saber uma palavra mas aprendendo com as crianças.
Sábado a Laura foi embora. Hoje foi a vez do Betinho. Agora, para rimar, estou de novo sozinho.
Quando Jesus andou sobre as águas, o fez no inverno alemão!
Agora vídeos:
No segundo vídeo, Iládio explica que prefere ficar na Alemanha durante o verão, e no Brasil durante o inverno (porque aí é verão agora).
É isso. Hoje foi o único dia que não fiquei com inveja de vocês, que estão no Brasil pegando praia... Eu passei me sentindo Jesus, caminhando sobre o lago!
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Susi & Vlad 2: a origem de Vlad
Considero esse texto a parte 1 do relato sobre a Susi e o Vlad. A parte 2 é a reportagem que eu escrevi. Dito de outra forma: minha reportagem é O Senhor dos Anéis, o relato de Prevedello é O hobbit. Assim, quando terminar de ler o texto abaixo, recomendo seguir adiante na reportagem. Ou fazer na ordem contrária.
***
terça-feira, 21 de agosto de 2012
A bat-reportagem!
do Tadeu Vilani, da mesma forma que ostentei por semanas, no msn, a frase "Vem aí uma bat-reportagem..."
Pois bem, a bat-reportagem finalmente foi publicada, então já posso falar dela. Está na edição 61, de agosto de 2012, da revista Brasileiros. O conteúdo só pode ser acessado comprando o exemplar nas bancas. Como chamariz, publico aqui o início da reportagem:
Em breve publico aqui um relato de como o morceguito Vlad foi parar nas mãos da Susi. Essa é uma história que não está na reportagem.
Em tempo: a história da Susi e do Vlad foi uma das narrativas que mais me deu prazer em apurar e produzir, nos últimos tempos. É, de fato, uma história muito comovente. Espero que o leitor seja minimamente contagiado por isso.
Boa leitura!
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Aldeia Global
Foi assim que um dia, por acaso, fiquei sabendo duma história no mínimo inusitada: que uma professora licenciada em informática estava traduzindo o BrOffice (versão brasileira e aberta do Word) para a língua dos índios.
Considero esse um achado. Mesmo. Porque essa professora não divulga seu trabalho. Porque sequer seus colegas mais próximos sabiam disso. Eles reagiam surpresos quando eu contava: "O quê? A Gilmara está traduzindo um software pro guarani???"
Claro que desse estopim inicial que foi a ideia da pauta até a versão final, que acaba de ser publicada (veja abaixo), houve muita apuração, pesquisa de novas fontes, entrevistas conseguidas a fórceps e tudo que costuma pertencer à rotina jornalista. Mas esse imenso trabalho só foi possível por causa da conversa que tive por acaso com a Gilmara, num dia em que dividimos um táxi para voltar da Associação Cairuçu (onde ministrei uma oficina de quadrinhos) até a cidade de Paraty. É por isso que dedico essa reportagem a ela.
***
[continue lendo].
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Atlas literário-geográfico
"Em 2006, com o lançamento do volume Brasil Meridional, o IBGE deu início à coleção Atlas das representações literárias de regiões brasileiras, que tem por objetivo identificar e representar, através de mapas em diferentes escalas, fotos e imagens de satélite, regiões brasileiras que constituíram elemento marcante da trama de algumas das grandes obras da Literatura nacional, construindo, dessa forma, um mapeamento onde a identidade é o elemento central para individualização dos diferentes segmentos territoriais que compõem o quadro nacional."
Aqui é possível acessar, gratuitamente, o volume 1, sobre o Brasil meridional. Já o volume 2, sobre o Sertão, está disponível aqui. Divirtam-se!
quarta-feira, 20 de junho de 2012
A capa das capas
(Um detalhe que me deixa muito contente e que não pode ser percebido pelo leitor: as duas frases estampadas como manchete - "A capa é o rosto do livro. Ela pisca para o leitor" - eram o subtítulo da minha reportagem.)
Folheie. Leia. Sinta.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Aproximações entre a Palestina e o Rio de Janeiro
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Proeza com a "Proa"
Deixa eu explicar desde o começo. Entre 2003 e 2007, cursei a faculdade de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), experiência acadêmica e de vida da qual sou muito grato. Entre as pessoas importantes que conheci nesse período, está o professor Paulo Roberto de Oliveira Araujo, responsável pela minha formação em Jornalismo Literário. Tornamo-nos amigos, o que considero uma evolução natural de uma relação bem-sucedida entre aluno e professor. Mais do que isso, também desenvolvemos projetos juntos. O principal deles foi a criação das disciplinas complementares de Jornalismo Cultural e Jornalismo Literário, ofertadas aos estudantes da Facos/UFSM. Tive a oportunidade de conceber, na condição de monitor, o programa das duas disciplinas, junto com o Paulo. Também em parceria, montamos os cronogramas, preparávamos o material para uso dos alunos e avaliávamos cada aula.
Pois bem. Quando me formei, passei o bastão da monitoria para os colegas que vieram depois. A continuidade foi garantida, principalmente graças ao engajamento do Paulo. E eis que, passados já cinco anos da minha formatura, recebo aqui na minha casa, em Porto Alegre, esta revista aqui:
(Obviamente, recebi um exemplar impresso...)
Trata-se da edição zero da Revista Proa de Jornalismo Literário, editada pelo Paulo com a professora Viviane Borelli e a equipe de alunos.
Fico imensamente orgulhoso por ter sido citado no editorial, e muito lisongeado com a publicação de um conto meu - Para cima o santo não ajuda -, que aparece em destaque já nas primeiras páginas. Para mim, a revista representa não só o esforço pró-Jornalismo Literário do Paulo e seus monitores, mas também coroa essas relações de confiança e afeto que são intrínsecas às melhores experiências.
Recomendo a revista a todos os que lêem este blog e parabenizo imensamente ao professor Paulo pela proeza. Agradeço ainda pelo espaço e, principalmente, pela amizade.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Entre quadrinhos e traduções
Leia a entrevista aqui!
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Psicose
A fala dele girou em torno de adaptações de uma obra para diferentes linguagens. Reproduzo aqui um trecho que me parece exemplar. O professor falava de Psicose, filme de Hitchcock que é baseado num romance de Robert Bloch, que é baseado numa história real ocorrida nos Estados Unidos.
Esta é a cena clássica do filme de Hitchcock, de 1960:
Impactante ainda hoje!
Pois o professor Lopes trouxe o livro de Bloch. Fiz questão de copiar um trecho. Veja a mesma cena como ficou em prosa:
The roar was deafening, and the room was beginning to steam up.
That's why she didn't hear the door open, or note the sound of footsteps. And at first, when the shower curtains parted, the steam obscured the face.
Then she did see it there -- just a face, peering through the curtains, hanging in midair like a mask. A head-scarf concealed the hair and the glassy eyes stared inhumanly, but it wasn't a mask, it couldn't be. The skin had been powdered dead-white and two hectic spots of rouge centered on the cheekbones. It wasn't a mask. It was the face of a crazy old woman.
Mary started to scream, and then the curtains parted further and a hand appeared, holding a butcher knife. It was the knife that, a moment later, cut off her scream.
Assim, subitamente, termina o capítulo. Que dizer...? A prosa é tão impactante, tão bem feita quanto o filme. Dá para entender de onde Hitchcock retirou elementos para fazer a cena que se tornou um clássico da história do cinema.
***
Em tempo. Se é para citar Robert Bloch como musa de Hitchcock, não posso esquecer de também mencionar Ed Gein, o homem que inspirou tudo isso.
200 anos de contos de Fadas
Mas a ideia deste blog não é só divulgar links, como também postar material extra, bastidores de reportagens etc. Aliás, mantenho este espaço justamente para casos como o de hoje.
Diana Corso, autora de Fadas no Divã, foi uma das entrevistadas da matéria. No texto que foi ao ar, recém lincado aí em cima, aparecem algumas poucas aspas dela, por motivos de economia de caracteres. O depoimento da Diana, porém, é bem mais completo do que isso. Perguntei-lhe sobre o poder fabular de readaptações contemporâneas para contos de fadas (como Shrek), e a reposta dela, por ser instigante demais para ficar escondida na minha caixa de entrada de emails, vem copiada abaixo:
quarta-feira, 2 de maio de 2012
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Fradique Mendes contra a ansiedade
Na mesma fictícia carta, Fradique Mendes, personagem de Eça, argumenta que querer dominar a pronúncia de uma língua é um ato anti-nacional e anti-identitário. O trecho é cômico, claro, e obedece às dinâmicas internas de caracterização da personagem. Ou seja, não deve ser levado ao pé da letra. Mas não deixa de ter um fim terapêutico para aqueles que se angustiam com essa difícil parte do processo ainda mais difícil de se aprender uma língua.
quarta-feira, 28 de março de 2012
Por um lugar para Liniers na Academia
Importante: se clicar em cima com o mouse, você consegue ler em tela cheia. Bem mais confortável para os olhos!
sexta-feira, 23 de março de 2012
sábado, 10 de março de 2012
Senhor Cash
"No livro, vemos um Johnny Cash mais sombrio. Foi essa mesma a intenção de Kleist?
Qual a importância das músicas (letras) no livro, já que algumas ganharam aspecto de mini-capítulos?
É difícil fazer a biografia de um músico, tanto em quadrinhos quanto em prosa. Por quê? Porque esses são meios visuais, o que faz perder o principal elemento de um personagem como esse: a sua arte. Não que isso inviabilize um trabalho, pois há alternativas. Kleist, por exemplo, usa as músicas como interrupções para dar ritmo à leitura - como as pausas em uma música! Ele inclusive 'desenha' essas músicas, da mesma forma que Crumb faz em Blues. Isso só é possível, claro, porque as canções de Johnny Cash são de natureza narrativa. Elas contam uma história e, quando a ouvimos, imaginamos essa história. São, portanto, músicas visuais!
Por outro lado, essa estrutura utilizada por Kleist tem outra função: ela insere as obras dentro do contexto da vida do autor contada durante todo o livro. Porque os grandes artistas - os de reconhecimento duradouro - não criam apenas por objetivos comerciais. Eles 'sentem' o que criam, e essa sua obra tem então origem nos acontecimentos à sua volta. Assim é a história de Johnny Cash e assim conseguiu Kleist reproduzir essa história na forma de quadrinhos.
Por que o livro ganhou tantos prêmio pelo mundo todo?
Premiações às vezes dizem respeito mais a questões extraliterárias (extraquadrinísticas também) do que à qualidade da obra. Mas há casos raros em que mérito e reconhecimento do meio coincidem. É o caso de Cash - uma biografia. Vejo nessa obra diversos motivos para essa carreira premiada. Um dos principais são técnicos: a qualidade do desenho, as dificuldades de narrar em preto e branco, o layout das páginas... Outros são de natureza narrativa: o modo como Kleist compôs a obra, a escolha do narrador, a estrutura dos capítulos etc. Mas, no fundo, no fundo, o que importa mesmo é o conjunto da obra composto pelo mosaico de todas essas partes. O que importa mesmo é a interpretação que Kleist nos dá de Johnny Cash. Sem romantismo, sem iconolatria. Apenas o homem e o que ele conseguiu com sua arte, sem esquecer aí o que isso lhe custou. O ônus e o bônus. Como na vida de todos nós, pessoas reais.
Na sua opinião, o que diferencia Cash de outro ídolos da música americana?
Acho que a sua versatilidade é um elemento importante que o diferencia. Johnny Cash, que começou com um ídolo comum da música country, tornou-se no fim da vida um artista contracultural. E em todas as fases da sua carreira há músicas emblemáticas que permanecem idolatradas até hoje. Ele também é bastante admirado por sua audácia e coragem - como por ter tocado para os prisioneiros na prisão Folsom, por exemplo - e pela sua perseverança ante os obstáculos da vida - a morte do irmão, as crises com as drogas, o relacionamento com June. Em suma, Johnny Cash sintetiza a unificação entre artista e obra, e aqueles que o admiram de verdade o admiram como homem e como músico. "
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Sobre tradução
***
1) Primeiro, resuma um pouco da tua biografia e currículo: idade, onde nasceste, formação, trabalhos que tens feito, cursos que ministras, línguas nas quais tem fluência, etc.
Eu nasci em Porto Alegre, no dia 17 de novembro de 1985, portanto tenho 25 anos. Aos 15 me mudei para Santa Maria, onde terminei o Ensino Médio e fiz a faculdade de Comunicação Social - Habilitação Jornalismo, na UFSM. Logo após concluído o curso, voltei para Porto Alegre para fazer a Oficina de Criação Literária do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil. Desde então, trabalho como jornalista cultural freelance, colaborando com veículos como a Revista da Cultura, a Continuum (do Itaú Cultural) e a espanhola Zona de Obras. Também sou colaborador do Goethe-Institut Porto Alegre, em projetos ligados a quadrinhos, e do Itaú Cultural. E estou desenvolvendo uma reportagem em quadrinhos sobre as favelas cariocas para o site holandês Cartoon Movement. Além do português, falo inglês e alemão, e estou aprendendo japonês.
2) De quem partiu a iniciativa de traduzir o Johnny Cash? Já conhecias o trabalho do Kleist?
Entre 2008 e 2009, morei na Alemanha por oito meses, trabalhando como Aupair. Foi lá que tive contato com a maioria das obras de quadrinhos que tenho me esforçado para trazer para o Brasil, como foi o exemplo de Cash, do Reinhard Kleist. Essa história eu contei no posfácio da edição brasileira, da 8Inverso. Em Berlim, eu visitei o ateliê de um outro quadrinista que eu admiro, o Mawil. Pois ele dividia na época o espaço com mais três quadrinistas, entre eles o Kleist. Foi aí que conheci o trabalho dele. De volta ao Brasil, em meados de 2009, o Robertson Frizero (que foi meu colega na oficina de criação literária do Assis Brasil) me pediu sugestões de projetos para a editora da qual ele recém virara sócio, a 8Inverso. Eu sugeri a tradução de Cash. Aí ocorreu uma coincidência que ajudou bastante nessa decisão: eu já estava organizando um evento com o Goethe-Institut Porto Alegre que traria o Kleist para o Brasil no final do mesmo ano. A editora aprovou a ideia, e então corremos para fazer a tradução a tempo de lançar com a presença do autor. Eu me sinto orgulhoso por ter trazido a obra do Kleist para o Brasil, mas também sei que isso só ocorreu porque houve uma editora com visão suficiente para topar a empreitada e ver aí uma grande oportunidade. Ainda hoje há vários autores alemães consagrados esperando por tradução. Não é toda editora que tem esse tino para negócio.
3) Uma graphic novel biográfica, como é o caso de Johnny Cash – uma biografia, aproxima-se mais da literatura ou do jornalismo?
Eu diria: aproxima-se mais do Jornalismo Literário. A reportagem feita em profundidade, no meu ver, tem muita semelhança com as melhores obras literárias, porque acaba não apenas informando, mas também transformando. Elas nos fazem pensar. O Jornalismo Literário bem feito também tem esse poder. Claro que aí há uma discussão sobre uma possível fronteira entre ficção e não-ficção, o que é bem questionável até certo ponto. A respeito disso, gosto muito de citar o que um personagem diz na página 94 de Cash: "De vez em quando você tem de ler apenas nas entrelinhas. Então você tem as verdadeiras histórias. No fim, são as histórias que permanecem, não os fatos. E histórias precisam ser contadas." Acho que o Jornalismo Literário ou mesmo as biografias em quadrinhos seguem exatamente esse preceito: se bem feitos, contam uma história que nos ensina algo. E essa história surge de uma apuração minuciosa, sem se ater apenas às informações objetivas.
4) A edição original do livro foi publicada na Alemanha em 2006, próximo ao lançamento do filme americano “Johnny & June”, também sobre a vida de Johnny Cash. Que diferenças existem entre as histórias apresentadas nas duas obras?
Pois isso foi uma coincidência. O Kleist não sabia que estava sendo feito o filme. Na minha visão, a versão cinematográfica da vida de Johnny Cash é mais romanceada, focada mesmo na relação dele com a June. Uma história de amor, praticamente. Já o quadrinho de Kleist tem uma atmosfera mais sombria, com bastante peso para o efeito das drogas na vida do Cash. Acho que por isso o trabalho do Kleist corresponde melhor ao que foi à vida de Johnny Cash. Se você acompanha a trajetória completa de Cash - incluindo aí a relação com a June, a carreira musical, sua infância e o uso das drogas -, você compreende (eu diria, você "sente") muito melhor o clipe "Hurt" (veja abaixo), que é praticamente um apanhado de tudo o que a vida de Cash significou. Com o filme não. Com o filme você tem uma visão mais positiva e menos realista da mesma história.
5) Existem limitações narrativas impostas pelo gênero graphic novel? Qualquer história pode ser transposta e adaptada aos quadrinhos?
Essa é uma ótima pergunta. Se formos pensar que o quadrinho é uma mídia visual, pareceria loucura contar aí a trajetória de um músico. Por isso o trabalho do Kleist merece tantos elogios. Por outro lado, acredito que há histórias mais apropriadas para a linguagem dos quadrinhos. Trabalho com Jornalismo em Quadrinhos e tenho pesquisado bastante sobre que vantagens há em se fazer uma reportagem usando essa linguagem. Afinal, há pautas mais adequadas para televisão, outras para impresso, outras para rádio. No meu ver, o quadrinho é muito bom para histórias com bastante apelo visual e que exigem reconstituição de cenas e construção de atmosferas. Nesse sentido, a sarjeta (o espaço entre um quadro e outro) pode ser um recurso excelente para tornar o leitor o responsável pela criação do clima da história, ou seja, para jogar o leitor dentro da história. É uma arte difícil de dominar, mas que o Kleist faz muito bem.
6) Que sugestões darias a jovens estudantes interessados no trabalho de tradução literária?
O importante da tradução literária é dominar a língua de chegada - o português, no nosso caso. Porque o alemão, por exemplo, é uma língua de difícil domínio. É uma língua que esconde muitas sutilezas de significado, mesmo para quem já convive há anos com o idioma, como é o meu caso. Para traduzir Cash, eu contei com a ajuda do próprio autor e de um amigo alemão que fala português. Eles foram cruciais para eu entender o signifcado preciso de algumas frases, principalmente no que diz respeito ao subtexto. A minha responsabilidade portanto foi encontrar a melhor forma de traduzir isso na minha língua, fazer o trabalho de Kleist se comunicar de maneira eficiente com o leitor brasileiro. Por isso acho que o importante mesmo é dominar os recursos da língua de chegada. Já com a língua de partida é necessário ter uma relação longa e profunda, claro, mas dificilmente se conseguirá dominá-la. É aí que vêm em nosso auxílio os dicionários e outras fontes.
7) Como é a rotina e a prática do trabalho de tradução de livros?
É difícil responder a isso. Cash foi a minha primeira e única tradução até agora. Para esse trabalho, tive um desafio especial: tive que traduzir em três semanas, para dar tempo de lançar o livro com a presença do autor. Isso ocorreu porque comecei a conversar com o Robertson em julho, se não me engano. E em setembro a 8Inverso estava fechando o contrato com a Carlsen, que detém os direitos da obra. Antes disso eu não podia traduzir. Foi uma correria, mas deu tudo certo. Enquanto o contrato não ficava pronto, eu me preparei assistindo a documentários sobre a vida de Johnny Cash, de modo que quando eu comecei o assunto não era novo para mim. Agora vou fazer minha segunda tradução e o método será certamente outro. Para começar, não é um trabalho biográfico, então esse tempo de pesquisa diminui um pouco. Por outro lado, também terei mais tempo para a tradução, o que permitirá um preciosismo e uma reflexão ainda maior. O que, claro, já houve durante a tradução de Cash. Acho no entanto que com a correria eu não pude curtir tanto o trabalho: era acordar de manhã e trabalhar em três turnos, quase sem pausa. Nesse novo trabalho quero aproveitar mais o processo, me divertir com ele. Ainda mais que se trata de uma obra que eu gosto muito.
8) Como proceder para acompanhar teu trabalho ou entrar em contato? Tens blog, utilizas as redes sociais?
Eu tenho um site, onde está publicado meu portfólio. O endereço é este: www.augustopaim.com.br. Ali é possível acessar meu perfil no Facebook e no Twitter (@augustoteles). Também tenho dois blogues: o www.cabruuum.blogspot.com, onde desde 2005 escrevo sobre quadrinhos; e o www.augustfest.blogspot.com, que começou como um espaço para relatar as minhas experiências de intercambista e onde hoje divulgo meus mais recentes trabalhos, bem como publico textos literários.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Uma pauta do barulho
Acho que foi lá por 2006, no último ano de faculdade em Santa Maria/RS, quando ouvi falar pela primeira vez em Música Eletroacústica, num encontro de um grupo de pesquisa que trouxe um convidado para falar sobre o tema. Na hora, já pensei: "que ótima pauta!" Depois disso, veio a formatura, o primeiro ano de mudança para Porto Alegre ralando em freela esparsos, os oito meses na Alemanha cuidando de crianças e o retorno à vida de freela em Porto Alegre. Se eu colocar no campo de busca do meu email a expressão "Música Eletroacústica", vão aparecer inúmeros emails que mandei para também inúmeros veículos oferecendo o tema como pauta em todo esse período. Na maioria das vezes, recebia um "não", o que já era melhor que não receber resposta.
Em outubro do ano passado, o tema voltou novamente à minha cabeça porque fiquei sabendo que seria inaugurado um espaço de Música Eletroacústica na UFRGS. Estive lá para conferir. Novamente, senti aquela empolgação que havia me contagiado ainda na faculdade. Sem muita esperança, comentei sobre esse evento com o editor da Revista da Cultura. Depois disso, deixei pra lá. Então, no final de dezembro, quando o mundo costuma parar para celebrações de Natal e Ano Novo, eis que recebo o glorioso email tendo como assunto as palavras que todo freelancer quer ler: "pauta aprovada".
O resultado foi publicado esta semana:
"Um maestro do barulho
Aos 80 anos, Frederico Richter é um dos pioneiros no Brasil da revolucionária Música Eletroacústica
por Augusto Paim
Na terça-feira, 4 de outubro de 2011, o pequeno João Vítor, de 8 anos, saiu mais cedo de casa em direção à escola. A aula começaria à tarde, mas às 12h30 ele já estava na Sala dos Sons, no segundo andar do prédio da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Sentou-se em uma cadeira e, a não ser pelas perninhas balançando, manteve-se em silêncio tranquilo pelos cerca de 50 minutos que durou a apresentação. A primeira música era do seu avô, que ficou de pé para receber os aplausos do público. Seguiram-se outras três. Uma delas imitava o barulho de animais imaginários, com ruídos de insetos metálicos e urros aquosos. O som era estranho e vinha de todas as direções – como se atravessasse seu corpo. Assustador. Mas não para o menino, que considerava tudo aquilo familiar. [...]"
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Novas editoras de Porto Alegre - material extra
"Antes da Dublinense e da Não-Editora, surgiu em 2001 em Porto Alegre a Livros do Mal, uma editora independente que, apesar de hoje não mais existir, tornou-se um farol para as demais. Foi fundada por Daniel Galera, Guilherme Pilla e Daniel Pellizzari. 'Não fomos pioneiros em nada', diz Galera, 'mas de certa forma fomos percussores, junto com a Ciência do Acidente [editora de Joca Reiners Terron], de um movimento de editoras independentes que tentaram, a partir da década de 00, abrir mais espaço a autores tidos como ‘malditos’.' Ele explica o que os motivou, contando que 'havia a sensação de que o cenário da literatura nacional estava um pouco engessado e a percepção de que o sopro renovador estava sendo gestado em grande parte nos fanzines, sites, revistas eletrônicas e blogs, um espaço que na época ainda era desdenhado pelas grandes editoras, pela publicações culturais e pela crítica.'
Mais leitores? Ou mais escritores?
'Não acho que atualmente surjam em Porto Alegre mais editoras do que no passado, ao menos nas últimas décadas', diz Montenegro, da Arquipélago, trazendo o exemplo da L&PM, que surgiu bem pequena na década de 1970 e hoje é uma grande editora. Segundo ele, no Rio Grande do Sul há 'um mercado regional mais disposto a consumir seus próprios escritores'. Haveria então mais leitores? Ele responde: 'é mais provável que o aumento do número de editoras, se for real, reflita um aumento no número de escritores que querem ser publicados'.
Essa foi uma motivação importante para o surgimento da 8Inverso. Cássio Pantaleoni sofria com a dificuldade de publicar seus livros. 'Muitos colegas escritores costumam se queixar do tratamento oportunista dos editores, distribuidores, livreiros e outros integrantes do mercado editorial', conta ele. Pela 8Inverso, saiu seu livro Histórias para quem gosta de contar histórias. Uma exceção, já que Pantaleoni evita misturar as funções de autor e editor.
Machado, da Não, observa que o maior número de editoras faz aumentar a quantidade de autores publicados: 'Esse dado, sim, poderia ser estudado, especialmente numa cidade como a capital gaúcha, onde existe uma grande quantidade de oficinas literárias e pessoas produzindo a literatura.' De fato, em Porto Alegre acontece há mais de 25 anos a célebre Oficina de Criação Literária do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, além do Mestrado em Escrita Criativa da PUC RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
Lu Thomé, sócia da Não Editora, questiona: 'não sei se esse aumento é algo específico do mercado editorial, ou de toda a cultura em geral. Mais pessoas estudam literatura, e escrevem livros, e os livros são editados. Mais pessoas montam bandas de rock. Mais pessoas viram fotógrafos ou conseguem como artistas plásticos expor seus trabalhos.'
Alcázar, da Argonautas, diz que há, sim, várias novas editoras surgindo em Porto Alegre ultimamente, mas não se trata de um fenômeno local. E ele dá explicações para esse boom no mercado editorial: 'acho que o aumento da produção literária e a relativa facilidade para se abrir uma empresa sejam os fatores decisivos.'
Mais fácil? Ou mais difícil?
'Hoje em dia, se você tiver um computador, os programas necessários e o conhecimento, você faz um livro na sala de sua casa', afirma Alcázar. É também o que aponta Faraon: 'hoje a gente pode trabalhar com um capista que vive na Europa, por exemplo, um designer que está no Nordeste do país, fazer a promoção do livro em grande parte através de ações online em todo Brasil e estando aqui no RS compor um produto com um time dos melhores profissionais disponíveis.'
Seria então mais fácil ser editor hoje em dia? Tito Montenegro diz que não: 'A edição, na minha concepção, é separar o que é bom do que não é.' E completa: 'Com uma quantidade cada vez maior de candidatos a autor, separar o joio do trigo está cada vez mais difícil. O resultado é que publica-se muito joio.' É também o que pensa Machado: 'a tecnologia não facilita em nada a tarefa de descobrir um original, fazer a sua preparação e decidir como esse livro será lançado no mercado.'
Faraon ressalta o quanto o poder de investimento ainda é um fator crucial: 'neste sentido é que nós, os pequenos, por mais criativos que sejamos, ainda sentimos muito.' É também o que diz Pantaleoni, que tem uma carreira consolidada na área da Tecnologia da Informação, onde aprendeu bastante sobre gestão de empresas. 'Mas confesso que o negócio editorial impõe desafios bastante distintos', diz. E o que essa experiência de editor altera na vida de um escritor? Pantaleoni finaliza: 'hoje, quando entro em uma livraria ou converso com um distribuidor, compreendo melhor as chances de um título. O ‘romantismo’ com o mercado editorial, em grande medida, cedeu espaço para uma visão mais prática.' O que não o fez mudar a postura em relação ao tratamento dado ao autor: 'Na verdade, está bem mais claro para mim a responsabilidade que temos nas mãos.'"